São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Relíquia do Brasil colonial será leiloada em Lisboa

JAIR RATTNER
DE LISBOA

Lisboa vai ter o leilão da maior barra de ouro fundida no Brasil durante o período colonial conhecida até hoje. Com um peso de 1.388 gramas, será apresentada a leilão em 27 de outubro uma barra de 1813 (fundida quando d. João 6º governava o Brasil) com a marca da Oficina de Fundição de Mato Grosso.
A barra, com o primeiro lance de US$ 66 mil, faz parte do tesouro de Jundiaí. "É um tesouro que foi encontrado em 1916 numa velha casa de fazenda localizada em Rio-Abaixo, perto de Jundiaí", conta Javier Salgado, o proprietário numisma, que organiza o leilão.
Segundo Salgado, quem está colocando a peça em leilão é um colecionador português, que não quer ter seu nome revelado. "Normalmente quem vende prefere o anonimato", explica.
A peça tem 23 quilates e cinco oitavos. "Tem uma pureza muito grande, é ouro 989", afirma Salgado. A peça não está acompanhada da guia emitida no ato da fundição, que poderia dobrar seu valor no leilão.
Além de várias barras de ouro -em número superior a 23-, o tesouro de Jundiaí contava também com muitas moedas de ouro. Apesar de encontrado em 1916, o achado só foi comunicado às autoridades em 1921. Uma parte do tesouro foi para o Tesouro Nacional.
Durante o período colonial, existiam no Brasil oito casas de fundição de ouro, que também recolhiam o quinto -20% do ouro fundido ficava para a coroa portuguesa. Para evitar a fuga ao quinto, a partir de 1713 tornou-se proibido o comércio de ouro em pó ou em pepitas no Brasil.
As maiores barras fundidas durante o período colonial são de Mato Grosso e Goiás. "A maior parte delas tem um peso bem menor, de 70 a 100 gramas", diz Salgado. Geralmente, os lingotes de ouro brasileiros alcançam um valor alto no mercado por ter um formato diferente do habitual.
Segundo Salgado, em Portugal os leilões de peças do Brasil obtêm lances mais altos do que em Londres. "É uma peça portuguesa e tem grande interesse em Portugal e no Brasil", explica.
Além da barra de Mato Grosso, também serão leiloadas várias moedas do período colonial. A mais importante é uma dobra de ouro de 1730, cunhada na Bahia, com lance mínimo de US$ 20 mil. Na época, a dobra valia 12.800 réis, valor maior que o de uma casa. "É uma moeda extremamente rara, com a serrilha original, com um reverso diferente do habitual e não se conhecem outros exemplares iguais", diz Salgado.

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