São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Lojas Americanas despenca nas Bolsas

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Nesta quarta-feira, a Lojas Americanas inaugura sua 100ª loja, em Curitiba (PR). O histórico número seria motivo de comemoração para os investidores em ações da rede de varejo, não fosse a queda vertiginosa das suas cotações.
Neste ano, as ações preferenciais (sem direito a voto) da Lojas Americanas despencaram 23,65% em termos nominais até sexta-feira passada. As ordinárias (com direito a voto) cederam 30,66%.
No mesmo período, o Ibovespa -o índice das blue chips, que mede as ações mais negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo- valorizou-se 53,25%. O FGV-100 -termômetro das ações de segunda e terceira linhas- subiu 6,08%.
Segundo a Economática, a Lojas Americanas também ficou atrás das demais empresas de varejo cotadas em Bolsa. Do Mappin (-2,44%) à gaúcha Lojas Renner (+129,23%), foi um massacre.
Quando isso acontece, a pergunta é inevitável: o papel virou uma pechincha ou um mico? Para respondê-la, é preciso ver as causas da derrocada do papel.
Parte da resposta está nos prejuízos com a operação das 99 lojas da rede: no segundo trimestre do ano, a Lojas Americanas amargou calotes da ordem de R$ 17,9 milhões em cheques sem fundos.
Completam o cenário as perdas, por equivalência patrimonial, na Wal-Mart. Como sócia local (com 40%) da Wal-Mart -maior rede de varejo do mundo-, a companhia bancou prejuízos de R$ 6,6 milhões no primeiro semestre.
No total, o prejuízo líquido da Lojas Americanas no primeiro semestre foi de R$ 13,9 milhões.
Tal resultado teria antecipado a saída do diretor-superintendente da empresa, José Paulo Amaral, na sexta-feira passada. Amaral, que deveria deixar o posto em dezembro, foi substituído pelo diretor Fersen Lamas Lambranho.
Alguns analistas recomendam cautela com o papel enquanto a empresa não esclarecer as recentes mudanças e divulgar resultados mais satisfatórios.
Caso de Jorge Kotani e equipe, da consultoria Lafis. E de Deborah Blackhurst, do Banco Patrimônio. Na turma do "hold" (manter posição), estão ainda especialistas do Cindam, do Geral do Comércio e do Paribas Capital Markets.
"É hora de olhar o papel. Em dois ou três meses, o desempenho da empresa no último trimestre estará mais claro. Então será hora de comprar, se tudo correr bem", afirma Kotani.
Para especialistas do Bozano, Simonsen e do Latinvest Securities, a hora é de comprar. E muito. O "strong buy" foi disparado por eles em análises recentes.
A voz do dono
Com a palavra, o diretor de relações com o mercado da rede, Márcio Garcia de Souza: "As ações caíram porque nossa reengenharia não trouxe os resultados esperados. Uma coisa era trabalhar sob um regime hiperinflacionário. Outra, com inflação baixa. Nosso sistema deixou de ser mais financeiro e ficou mais comercial. Já estamos colhendo os frutos da mudança".
Ele diz que, para um prejuízo financeiro de R$ 13,9 milhões no primeiro semestre, a companhia registrou um lucro operacional de R$ 15 milhões antes dos encargos financeiros e impostos, "o que é um bom sinal".
Para conter a inadimplência nas lojas, será instalado o sistema Telecheque nos cem pontos-de-venda, até o fim do mês.
Mas as atenções também estão voltadas para o que acontece nas cinco lojas da rede Wal-Mart, na Grande São Paulo.
"A Wal-Mart enfrentou problemas operacionais, mas agora já 'tropicalizou' seus sistemas. Eles esperam um resultado bom no último trimestre e devem anunciar seus planos de investimento nos próximos 30 a 60 dias", diz Souza.

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