São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Avaliação de Rockefeller

LUÍS NASSIF

A nova biografia de Nelson Rockefeller -comentada semanas atrás no excelente caderno "Mais"- ainda está presa à visão conspiratória da história.
Rockefeller estava longe do biotipo do imperialista selvagem e predador, que periodicamente avançava sobre o Brasil.
Descobriu a América Latina nos anos 30, por meio do café, e identificou claramente os fatores de atraso do continente: o modelo político, amarrado a um coronelato atrasado.
Quando eclodiu a Segunda Guerra, propôs ao presidente americano Franklin Delano Roosevelt nova política econômica para o hemisfério, tendo como ponto central a criação e o fortalecimento de uma classe média moderna.
A proposta lhe valeu a chefia do Office for Inter-American Affairs (Escritório para Assuntos Interamericanos).
Nesse escritório, tendo como parceiro brasileiro o grande Assis Figueiredo, diretor da área de turismo do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), foi o principal responsável pela entrada da música brasileira no mercado americano.
Reiteradas vezes Rockefeller falava da necessidade de convencer os latino-americanos de que a cooperação com os Estados Unidos era a porta para o desenvolvimento nacional.
Para tanto, os investimentos americanos precisavam ser compatíveis com os interesses locais a longo prazo -o oposto da visão predatória de tantos bucaneiros que por cá aportaram.
Por conta disso, ao longo de sua vida Rockefeller deixou plantadas múltiplas iniciativas meritórias, da inauguração do mercado de capitais no país, ao início da pesquisa agrícola no continente, com o desenvolvimento do milho híbrido -que resultou, anos mais tarde, na Agroceres.
No plano interno americano, sua ação refletia o pensamento mais progressista da intelectualidade americana do Partido Democrata, para quem a América Latina precisava ser modernizada para se integrar ao mundo.
Apoiou o Movimento Militar de 64. Mas se queria o quê? Que o símbolo do capitalismo americano apoiasse Jango?
Anos mais tarde, quando a tortura tornou-se instrumento institucionalizado da repressão, protagonizou momento histórico no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio. Coube a ele receber intelectuais brasileiros com denúncias de tortura, numa atitude que lhe custou a antipatia dos novos donos do poder.
As reações contra ele prendem-se muito mais ao fato de simbolizar um nome relevante na história do capitalismo americano, do que a ações nefastas conduzidas contra o Brasil.

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