São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De boas intenções etc.

JANIO DE FREITAS
DE BOAS INTENÇÕES ETC.

Por melhor que tenha sido o propósito da Justiça Eleitoral, ao introduzir a urna eletrônica na próxima eleição, a pretendida redução das fraudes ameaça tornar o resultado eleitoral ainda mais ilegítimo do que seria com as fraudes mesmas.
A dez dias da votação, o Datafolha faz a demonstração assustadora de que 47% de eleitorado tão instruído, como é o paulistano em relação a quase todo o restante, ainda não sabe usar a maquininha. As mesmas evidências, embora sem quantificação em eleitorado amplo, há meses são dadas por todos os testes públicos realizados, em diferentes cidades, pela Justiça Eleitoral.
A prevalecer desconhecimento tão difundido, não haverá como distinguir, na contagem final, o voto anulado por vontade do eleitor e o voto perdido por erro. Por impossibilidade de comprovação, será precária, portanto, qualquer providência ou responsabilização se a massa de votos anulados comprometer, seja onde for, a conveniente confiança geral na legitimidade do resultado.
Pior ainda ainda é que, sem dúvida, dificulta a ação de fraudadores, mas não chega a impedi-la. É o que se deduz da comprovada construção falsificada de urna eletrônica, em tudo semelhante à oficial. Não há indício de falsificações preocupantes, mas a possibilidade comprovada é, por si só, crítica forte ao modelo adotado e negadora da segurança eleitoral esperada da urna eletrônica.
A ocorrência de anulações em número comprometedor se mostrará pela comparação entre os resultados oficiais e as tendências apontadas pelas últimas pesquisas. Discrepâncias pequenas são normais, mas, se graúdas em comparação com a maioria das pesquisas, a maquininha e seus patronos não ficariam bem.
A Justiça Eleitoral ainda tem, no entanto, como remediar o problema. De hoje à eleição há tempo suficiente para uma campanha intensiva de instrução do eleitor. É improvável que algum meio de comunicação deixasse de colaborar com uma campanha assim. E, com certeza, todos fariam muito melhor do que a propaganda que os TREs estão difundindo, cuja qualidade é atestada pelo próprio índice de desconhecimento que aí está.

Texto Anterior: Rossi diz que é escolhido de Deus, mas não cumprirá promessa
Próximo Texto: Financiadores de Maluf fazem as maiores obras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.