São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Financiadores de Maluf fazem as maiores obras

Empreiteiras do esquema Paubrasil concentram operações

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As maiores obras da Prefeitura de São Paulo na gestão de Paulo Maluf (PPB) foram feitas por empreiteiras que financiaram as campanhas dele em 1990 e 1992.
Levantamento feito pela Folha mostra que só duas entre as dez maiores obras de Maluf não foram tocadas por empresas que deram recursos ao candidato (veja no quadro ao lado).
Nove entre as dez obras foram licitadas pelo prefeito Jânio Quadros e a maioria ficou paralisada na gestão Erundina. Cabia a Maluf a decisão de retomá-las ou não.
Em 1990, ele concorreu ao governo do Estado. Dois anos depois, chegou à prefeitura.
O esquema
O caso do financiamento das campanhas ficou conhecido em 1993 como esquema Paubrasil, empresa que estava no nome do pianista João Carlos Martins.
Foi com a Paubrasil que o esquema Maluf arrecadava os recursos para a campanha e tentava legalizar a saída do dinheiro passando notas fiscais frias. Martins era amigo de Maluf e trabalhava sob as ordens de Calim Eid, o tesoureiro das campanhas malufistas.
Até Flávio Maluf, filho do prefeito, recebeu recursos da Paubrasil, no equivalente a R$ 370 mil.
O esquema foi descoberto pela Receita Federal em junho de 1993. Martins confessou à Procuradoria da República ter juntado US$ 19 milhões nas duas campanhas.
Entregou também uma lista com o nome dos financiadores e os respectivos valores. A Folha confrontou as somas entregues pelas empreiteiras com o que receberam ao tocar as maiores obras de Maluf.
O processo do caso indica que a soma pode ser superior aos US$ 19 milhões declarados por Martins. Haveria, também, financiadores que não aparecem na lista.
Quatro dos financiadores de Maluf -Mendes Júnior, Andrade Gutierrez, CBPO e Constran- deram às duas campanhas US$ 15,3 milhões, ainda segundo Martins.
Após três anos de meio com Maluf à frente da prefeitura, as mesmas empreiteiras receberam pelas obras feitas R$ 1,88 bilhão.
Se tivessem aplicado em CDBs os US$ 15,3 milhões dados às campanhas, reajustados por uma das maiores taxas de juros do planeta, as empreiteiras teriam quadruplicado seu capital após quatro anos.
As doações
A CBPO (Companhia Brasileira de Projetos e Obras), do grupo Odebrechet, fez a maior doação nas duas campanhas de Maluf: US$ 5,8 milhões. Foi a CBPO que tocou a obra mais cara de Maluf em consórcio com a Constran: o túnel Ayrton Senna.
Custou R$ 728 milhões quando os valores são corrigidos pelo Índice de Preços de Obras Públicas da Fipe -o mesmo que a prefeitura usa para reajustar seus contratos.
A CBPO ficou com R$ 400,4 milhões e a Constran com o restante.
Já as doações da Mendes Junior renderam mais. A empreiteira deu US$ 1,4 milhão para Maluf e tocou obras de R$ 610,6 milhões.
Três anos depois do episódio, nenhuma empreiteira contestou a lista de financiadores de Maluf.
A maioria foi autuada pela Receita Federal e pagou a multa. O motivo da multa é que os supostos serviços prestados pela Paubrasil -como aluguel de guindastes- simplesmente não existiam.
A legislação à época previa o fim do crime logo que a multa fosse paga. João Carlos Martins ainda não pagou seu débito -equivalente a R$ 17,7 milhões- porque seus advogados levaram o caso ao STF (Supremo Tribunal Federal). Querem que o processo seja julgado pela Justiça Eleitoral.
A Procuradoria da República em São Paulo defende que ele deve ir para a Justiça Federal. O STF não tomou nenhuma decisão.

Texto Anterior: De boas intenções etc.
Próximo Texto: 'Não houve beneficiamento'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.