São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chabrol estuda o mal

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Claude Chabrol -o diretor de "Mulheres Diabólicas" (Eurochannel, 22h)- costuma ser apontado, com justa razão, como um discípulo de Fritz Lang.
Há uma oposição flagrante, embora secundária, entre os dois. Lang, para justificar as mulheres perversas que criava, dizia que não era misógeno, gostava de mulheres, mas achava que as mulheres boazinhas eram, simplesmente, personagens desinteressantes.
Chabrol, ao contrário, tem mostrado mulheres que são vítimas (dos homens, das leis etc.), sem por isso serem desinteressantes.
"Mulheres Diabólicas" é quase uma exceção em sua produção recente. Ali, ele mostra um conflito de classes a partir da figura da empregada doméstica. E não qualquer uma: junto com a amiga Isabelle Huppert, Sandrine Bonnaire mostrará que sabe ser má.
Existe mais de uma menção ao "mal que existe em cada um", ao longo do filme. Mas é inegável que Chabrol trabalha sobretudo fora desse registro. O mal existe, ponto. Ele paira, acima ou lado dos seres, como se esperasse a chance de encarnar em alguém.
No caso, existe uma questão de classe. Em particular, do abismo que as diferenças sociais engendram e que tornam impossível transitar de uma classe a outra. A sociedade é o mal.
"Mulheres Diabólicas" parece ter sido feito para constatar que o ideário da Revolução Francesa está em crise também na França. Nem todos são cidadãos, ou nem todos têm a mesma idéia do que seja isso: a sociedade está quebrada.
(IA)

Texto Anterior: Telefilme reconstitui o martírio de Karen Carpenter
Próximo Texto: Produção se afirma como testemunho pessoal
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.