São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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SATÉLITES CULTURAIS

O anúncio, na semana passada, da compra pela Hughes Eletronics, filial da General Motors, da empresa de telecomunicações por satélite PanAmSat, criando a maior empresa privada de satélites do mundo, é um acontecimento com o dom de resumir as características de uma época.
Primeiro, é a consagração do setor privado numa área, a infra-estrutura em telecomunicações, que em muitos países ainda é monopólio estatal.
É também notável que a fronteira econômica e tecnológica atual esteja sendo conquistada por uma empresa, a General Motors, que surgiu e se consolidou numa etapa anterior da história do capitalismo.
No próprio setor de telecomunicações, entretanto, o novo empreendimento diz muito sobre o sentido das novas tendências. Além dos valores financeiros envolvidos, da dimensão da empresa, do seu caráter global e da ligação com um conglomerado como a GM, o negócio mostra como é forte a tendência a uma certa verticalização no setor de mídia.
Ou seja, quem opera satélites (a infra-estrutura) comercializa também os produtos que serão transmitidos por meio deles (a programação, através de redes em que empresas locais em todo o planeta tornam-se coligadas, como se pode constatar).
Resta saber se esse movimento de megafusões e concentração de poder econômico e tecnológico em poucas mãos não representa também uma ameaça à integridade cultural e à autonomia na formação de opinião nas várias sociedades do globo.
O risco que se corre é o de se criar um oligopólio de opinião de caráter planetário, capaz de bloquear a difusão de idéias divergentes.
Risco equivalente a transformar cada sociedade em pouco mais que um satélite cultural já não necessariamente de um determinado país, mas sim de uma empresa ou grupos de empresas que controlem desde a infra-estrutura (o satélite) até a própria programação.

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