São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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Cingapura, ano 409

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Um grupo de 45 urbanistas está divulgando um manifesto intitulado "Urbanistas por São Paulo", que contém um julgamento demolidor sobre a gestão Paulo Maluf na Prefeitura de São Paulo.
Chamam a atenção, em particular, dois cálculos constantes do documento:
1 - no ritmo adotado pelo projeto Cingapura, de erradicação de favelas, vai levar 409 anos para dar habitação menos indigna a toda a população favelada da cidade.
A aritmética é elementar: foram atendidas, até agora, 3.800 famílias (a um custo de R$ 204 milhões). Como a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP, calcula que as famílias faveladas são 450 mil, chega-se aos 409 anos mencionados, assim mesmo se, nesse "curto" período, não houver crescimento algum das favelas.
2 - O chamado Corredor Sudoeste-Centro, aquele que inclui o túnel sob o parque Ibirapuera, consumiu R$ 1,28 bilhão para atender, segundo os urbanistas, cerca de 50 mil pessoas/dia.
Com esses recursos, seria possível construir, a preços internacionais, 20 km de metrô, que, por sua vez, atenderiam 450 mil pessoas por dia, ou nove vezes mais do que o corredor.
Impressiona, não? A lista de assinaturas no manifesto também impressiona. Suspeito que não falta nome algum da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. É verdade que é fácil identificar, entre os signatários, militantes do PT e PSDB. Mas há também muitos independentes e espero que, mesmo os simpatizantes dos partidos de oposição a Maluf, tenham sabido preservar o rigor acadêmico.
O que mais impressiona é que tenham esperado a véspera da eleição para fazer uma análise tão demolidora de uma gestão prestes a se encerrar.
Será que não há meio de os setores sociais competentes interferirem na gestão pública antes de que sejam cometidos absurdos como os apontados no documento?

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