São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996 |
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Igreja Católica distribui cartilha que prega o voto oposicionista no Ceará
PAULO MOTA
Os nomes desses partidos estão inscritos nos dedos de uma mão que está abaixo da seguinte frase: "Não vote nos candidatos dos partidos que criam a miséria". Os partidos de oposição (PDT, PT, PC do B e PSB) não são citados no documento. 'Animar discussões' O padre Hermano Allegri, coordenador estadual da Anote (Agência de Notícias Esperança), disse que foram distribuídas 30 mil cópias da cartilha entre paróquias e comunidades de base da Igreja Católica no Ceará. "Esse documento serve de base para animar as discussões sobre o papel de nossos fiéis na disputa eleitoral", diz Allegri. Denominada de "Um papo sobre as próximas eleições", a cartilha tem quatro páginas em formato de história em quadrinhos. "Chico Industrial, Zé Empresário e João Latifundiário" são os três personagens que encarnam o tipo de político que deve ser evitado pelo eleitor, segundo a cartilha. A cartilha recomenda aos eleitores votar nos partidos e candidatos que apoiaram "as lutas por melhores salários, pela terra, pela moradia e por emprego". Segundo Allegri, a cartilha foi elaborada pelas pastorais sociais da igreja com base no documento "Como votar bem", feito pelos bispos das nove dioceses cearenses e divulgado em julho passado. No documento, os bispos questionam: "Será que devem ser votados candidatos ligados aos partidos que votaram pelo salário de R$ 112,00, apenas, pelo socorro de bancos falidos, sem o confisco dos bens e a punição dos culpados?" Os bispos pedem ainda, no documento, que os eleitores votem em candidatos que tenham "defendido a vida, combatendo o aborto e a esterilização". Pedem também o voto para candidatos que saibam administrar com a participação de sindicatos e associações populares. O cardeal de Fortaleza, dom Cláudio Hummes, estava ontem em Brasília e não foi encontrado pela Agência Folha. O bispo auxiliar de Fortaleza, dom Geraldo Nascimento, um dos signatários do documento, disse que a citação dos partidos na cartilha "é uma forma direta de pressionar seus dirigentes a não assumirem propostas que prejudiquem o povo pobre". O presidente do PT no Ceará, José Guimarães, considerou a cartilha "excelente" e disse que militantes de seu partido estão reproduzindo-a e usando-a para fazer campanha eleitoral. Sectarismo O presidente do PSDB cearense, Marco Penaforte, disse que a cartilha é sectária. "Quem conhece a realidade do Ceará sabe que o PSDB é o partido que mais tem contribuído para reduzir a miséria no Estado." Allegri afirmou que a cartilha serve apenas como " orientação geral" para os fiéis, sem obrigá-los a segui-la à risca. O presidente estadual do PMDB, Mauro Benevides, considerou "absurdamente injusta" a inclusão do PMDB na cartilha da CNBB. "Fomos nós que unificamos o salário mínimo nacional e que desenvolvemos projetos geradores de empregos na região", disse Benevides. O presidente regional do PFL, Roberto Pessoa, disse que a cartilha "nega o ensinamento de Jesus Cristo que condena a discriminação e coloca em xeque a cúpula da Igreja Católica". Texto Anterior: Saiba como votar na urna eletrônica Próximo Texto: Brizola faz críticas ao candidato do PT Índice |
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