São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Plano de ampliação do metrô de Serra custa o dobro do padrão internacional

PATRICIA ZORZAN

PATRICIA ZORZAN; LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Para cumprir programa, tucano teria de construir mais km do sistema do que o já feito em 25 anos

Se for eleito prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB) promete construir mais quilômetros de linhas de metrô do que já foi feito em toda a história do transporte na cidade e a um custo duas vezes superior ao padrão internacional.
O valor das obras, previsto no programa de governo tucano, é de US$ 3,884 bilhões. O total equivale a quase três vezes o orçamento do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), estimado em US$ 1,38 bilhão.
A proposta do candidato do PSDB fala sobre quatro novos trechos de linhas de metrô, que acrescentariam 49,8 km aos 43,6 km já existentes.
O custo de duas delas supera ainda o preço médio internacional do quilômetro construído, que, de acordo com dados da União Internacional de Transportes Públicos, é de US$ 100 milhões.
O caso mais polêmico é o que envolve o trecho Ana Rosa/Oratório, com 7 km de extensão.
Com um orçamento previsto em torno de US$ 1,7 bilhão, ou seja, cerca de US$ 242,8 milhões o km, o valor da linha ultrapassa a média estipulada para o trecho Paulista/Vila Sônia, que, com 9,5 km de extensão, teve o custo do km estimado em US$ 152,6 milhões.
Segundo técnicos ouvidos pela Folha, as condições do terreno por onde passam os dois trechos exigem que as linhas sejam integralmente subterrâneas.
"As duas linhas são muito semelhantes e comparáveis. Nem a diferença do número de estações (nove no trecho Ana Rosa/Oratório e cinco no Paulista) justificaria a diferença de preços", diz o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Flávio Villaça.
Para efeito de comparação, a nova linha do metrô de Paris (França), que deverá estar em funcionamento a partir de 1997, teve seu custo estimado em US$ 1,3 bilhão.
Isso equivale a cerca de US$ 164 milhões por quilômetro construído, ou seja, US$ 78 milhões mais barata que a linha Ana Rosa/Oratório, mas também acima da média internacional.
A grande diferença está no fato de que o trecho em Paris vai funcionar totalmente informatizado. A linha conta com tecnologia de ponta, que inclui um novo material rolante nos pneus e uma suspensão silenciosa antivibrações. Terá 8 km de extensão.
Outro aspecto polêmico do projeto tucano são os quilômetros previstos para os trechos.
A construção das quatro novas linhas implicaria uma quilometragem superior a tudo o que já foi feito nos 25 anos de existência do metrô na cidade.
Historicamente, a média anual do Metrô para a construção de linhas é de aproximadamente 2 km por ano. Para cumprir sua meta durante os quatro anos de prefeitura, Serra teria de elevar esse índice para quase 13 km anuais.
Segundo a "Revista dos Transportes Públicos (nº70)", o metrô mexicano -resultado de um vasto projeto de cooperação internacional- foi o recordista em km de linhas construídas por ano na América Latina, com 7,4 km/ano.
Especialistas da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado prevêem que seria possível construir somente cerca de 4,5 km de linhas por ano.

Colaborou Luiz Antônio Ryff, de Paris

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