São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ONGs querem plano de proteção a testemunhas

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Entidades não-governamentais se reuniram ontem na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados para pressionar o governo federal a criar um programa nacional de proteção a testemunhas.
A Folha apurou que o governo pretende entregar o programa aos Estados. Entidades de defesa dos direitos humanos querem um programa federal.
Em fevereiro passado, o Ministério da Justiça retirou projeto de lei sobre o assunto que estava prestes a ser votado pelo Congresso.
Entre outras medidas, ele permitiria mudar a identidade, dar um novo emprego e transferir as testemunhas de cidade.
Segundo Humberto Espínola, presidente do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (órgão federal que cuida do assunto), o governo federal entregou o projeto antigo a um grupo de juristas para que fosse reformulado.
"O projeto estava muito centralizado e o Brasil é uma federação. A responsabilidade de proteger as testemunhas tem de ser dividida entre União, Estados e sociedade civil", disse Espínola.
Para o deputado Hélio Bicudo (PT-SP), é necessário haver uma lei federal, que assegure a proteção nos Estados. "No Pará e no Rio de Janeiro, por exemplo, a ameaça à vida das testemunhas é a própria polícia. Como é que o Estado vai garantir a segurança, se ele é a ameaça?", questiona Bicudo.
Amadorismo
No Brasil, hoje, as testemunhas são protegidas de forma amadora por ONGs (organizações não-governamentais), igreja, organismos internacionais, juízes e advogados. A principal testemunha do massacre de menores na Candelária (RJ), Wagner dos Santos, 25, vive na Suíça graças à ajuda da Anistia Internacional.
O ex-procurador-geral da Justiça do Rio de Janeiro Antônio Carlos Biscaia chegou a hospedar em casa de amigos o contador do jogo do bicho Ronaldo, uma das principais testemunhas da ligação entre o bicho e o tráfico de drogas.
Biscaia defende que seja adotado no Brasil um programa nos moldes do que existe nos EUA, coordenado pelo Ministério da Justiça.
A proposta de Biscaia é fazer um programa parecido -que assegure casa, trabalho, ajuda psicológica e outro de nome à testemunha.
O ministério vai examinar amanhã e depois o programa dos EUA.

Texto Anterior: Jobim defende criação de fundos para as polícias
Próximo Texto: Pernambuco é base para projeto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.