São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
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Vovó roubou o banco

GILBERTO DIMENSTEIN

Acabamos de aprender que, no Brasil, vovó também rouba. No início da semana, uma senhora de 70 anos inventou um novo truque para surrupiar bancos e mostrou que delinquência não tem mais idade.
Ela ludibriou os seguranças de uma agência do Banco Excel-Econômico, no Rio, escondeu uma arma e a entregou aos assaltantes. Eles levaram R$ 18,2 mil -que, aliás, não chegam a fazer exatamente sombra aos rombos provocados pelos ex-administradores do Econômico.
Sinal da banalização do crime, assistimos neste ano a uma inusitada aliança de gerações. Na segunda-feira passada foi a vovó do Rio. Há um mês, em São Paulo, foi a vez do "netinho", um garoto aparentando oito anos de idade que participou de assalto a banco.
Houve um tempo em que avó e neto só entravam na história como vítimas do Lobo Mau.
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A "vovó" e o "netinho" ajudam a entender uma das lições da campanha presidencial dos EUA: a violência e o crime vão ocupar lugar privilegiado na agenda brasileira, exigindo soluções dos candidatos.
É um tema que vai perseguir os candidatos a presidente tanto quanto inflação ou desemprego.
O principal assunto da disputa presidencial aqui, mais do que emprego, é a criminalidade. Este mês, os dois principais candidatos, Bill Clinton e Bob Dole, rastejaram pelo apoio dos sindicatos dos policiais e prometem fazer do combate aos criminosos prioridade nacional.
Sorte de Clinton: pesquisa lançada semana passada informa que, no ano passado, os crimes violentos caíram 9% em todo país.
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Tudo está a favor de Clinton nesta eleição -até seu passado de adúltero. Pesquisa feita pela revista "Newsweek" informa que a imensa maioria dos americanos não deixaria de votar num presidente por deslizes em sua vida matrimonial.
Não significa que o adultério esteja em alta. Num sinal de que a revolução sexual dos anos 60 foi substituída por uma nova moral, 74% dos norte-americanos condenam casos extraconjugais.
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Mas as mulheres continuam conquistando espaços em todas as áreas nos Estados Unidos -na faixa etária entre 22 e 33 anos elas já são mais infiéis do que os homens.
Os homens mais velhos, entre 54 e 63 anos, lideram de longe em infidelidade -quase quatro em cada dez têm um relacionamento fora do casamento.
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PS - Perguntinha: é justo prender a vovó-assaltante e deixar solto quem desviou milhões do Banco Econômico? A diferença não é só de valor. Assalto não tem Proer. Logo, não acaba no meu bolso.

E-mail GDimen@aol.com
Fax (001-212) 873-1045

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