São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 1996
Próximo Texto | Índice

A ABERTURA QUE FALTA

Chega a ser torturante a lentidão com que os bancos reduzem os juros cobrados a consumidores, empresas e correntistas. Tortura que ocorre sob uma passividade inaceitável, para dizer o menos, das próprias autoridades monetárias.
No período de superinflação os bancos obtinham rendimentos extraordinários simplesmente transferindo os depósitos à vista para aplicações financeiras lastreadas em títulos públicos, além de outros artifícios. Ou seja, o governo era o patrono maior do que ficou conhecido como ciranda financeira.
Com a estabilização, as regras do jogo mudaram, mas tanto a escandalosa apropriação de renda quanto o patrocínio oficial continuam intactos. A nova fonte de ganhos extraordinários no sistema bancário é o diferencial absurdo entre os juros básicos, por si elevados, mas ainda assim declinantes, e os estratosféricos juros cobrados no crédito a empresas, correntistas e consumidores.
Segundo pesquisa do Procon-SP, os juros nas operações de empréstimo pessoal variam de 4,00% a 8,10% ao mês, ou de 60,10% a 154,63% ao ano. A inflação é da ordem de um dígito anual. O diferencial é escandaloso.
Obviamente os salários não acompanham tais variações. A inflação era um imposto crudelíssimo sobre os mais pobres. Mas agora que as decisões de compra dependem sobretudo do crédito a consumidores de renda mais baixa, os juros usurários são uma forma de transferir renda dos mais pobres para os mais ricos.
O mesmo raciocínio aplica-se ao mundo das empresas. Afinal, inexiste projeto de investimento ou atividade econômica suficientemente rentável para dar retorno compatível com os juros cobrados por empréstimos para capital de giro. Pior ainda nos setores onde já se verifica uma deflação e, portanto, os juros reais são ainda mais sufocantes.
A justificativa dos bancos para essa apropriação de renda é garantirem-se contra os riscos de inadimplência. Ora, mas é essa cobrança sem freios nem lógica que, afinal, aumenta esses riscos e dificulta a superação da atual crise de crédito.
Cabe às autoridades aumentar a concorrência no sistema bancário e admitir novas instituições, em especial estrangeiras. A abertura tem sido implacável e benéfica em muitos setores da economia. Entre os bancos, esta é a abertura que falta.

Próximo Texto: ONDE ESTAMOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.