São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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Vicente Matheus ainda será chamado de gênio

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Alberto Helena Jr., escrevendo ontem neste espaço, falou pouco e disse tudo sobre a absurda e injusta demissão do técnico Valdyr Espinosa do Corinthians. Mas vale a pena voltar ao episódio, pelo que ele tem de revelador da incompetência que assola o clube do parque São Jorge.
Senão, vejamos: nos últimos dois anos, o Corinthians, descontado o caso atípico do empréstimo de Edmundo, só fez praticamente uma boa contratação para o seu elenco, a do lateral Rodrigo.
No mesmo período, se desfez de jogadores como Moacir, Viola, Elivélton, Marques e Zé Elias -para citar só os que passaram pela seleção brasileira. (Para onde foi, aliás, o dinheiro dessas negociações?)
A busca de um substituto para Viola no comando do ataque transformou-se numa novela. Falou-se em Luizão, falou-se em Paulinho, falou-se num africano qualquer, falou-se em Dely Valdez -e até agora nada. Enquanto isso, o time vai queimando sem dó os candidatos à posição.
Se não me falha a memória, a desculpa dada pelos dirigentes para não trazer Luizão (na época no Guarani) foi o preço pretensamente alto cobrado pelo passe do jogador. Eu me pergunto: será que não teria ficado mais barato fazer um esforço para trazer esse artilheiro eficaz, em vez de fritar, sucessivamente, Serginho, Clóvis, Leonardo, Alcindo, Tiba?
Sem falar no desgaste cruel dos atletas envolvidos nessa comédia de erros, o resultado dela é que Luizão está no Palmeiras, Paulinho, no Cruzeiro, e os dois times vão bem, obrigado, enquanto o Corinthians continua sem goleador.
Não estou dizendo que craques completos como Luiz Pereira, Edinho ou Antônio Carlos apareçam em cada esquina, mas é difícil acreditar que por esse Brasil afora não existam bons centrais e quartos-zagueiros. O Palmeiras encontra, o Cruzeiro encontra, o São Paulo encontra. Por que o Corinthians não encontra?
Aí chegamos ao centro da questão. O que está errado no Corinthians é, obviamente, a sua cartolagem. Entra técnico, sai técnico, entra jogador, sai jogador -e os dirigentes continuam com sua política amadora, improvisada, desastrosa.
Como políticos em tempo de eleição, esses senhores de vez em quando tentam um lance de efeito: trazem Edmundo, prometem Dely Valdez, anunciam a contratação de um centroavante africano.
Parece piada: sair do Brasil (tetracampeão mundial, lembram?) para ir comprar jogadores na África. Como se ainda estivéssemos no tempo da escravidão e centroavantes pudessem ser comprados a quilo.
Sim, porque não se falou em trazer um determinado atacante que tivesse interessado o clube por sua qualidade técnica. Falou-se em trazer "um africano". Por que não um zagueiro central esquimó, um técnico neozelandês ou um cartola marciano?
Desse jeito, Vicente Matheus ainda vai ser reabilitado como gênio.

Matinas Suzuki Jr., que escreve às terças, quintas e sábados, está em férias

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