São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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Netanyahu faz cem dias 'em cima do muro'

JOHN LICHFIELD
DO "THE INDEPENDENT"

Depois que Binyamin Netanyahu venceu as eleições israelenses, em maio, a reclamação mais comum foi: "Não sabemos realmente quem ele é e o que vai fazer".
Hoje, Netanyahu faz cem dias como primeiro-ministro. O premiê israelense está viajando pela Europa para vender a idéia de que sua coalizão de partidos religiosos e de direita mudou, mas não destruiu o processo de paz.
Em uma entrevista à rádio BBC, Netanyahu disse que sua dureza havia oferecido uma perspectiva melhor de uma paz duradoura.
As duas idéias podem ser falsas. O enfrentamento em Ramallah pode ser um alerta de que confrontos mais sérios podem surgir.
O governo Netanyahu ainda está "em cima do muro". Ele não derrubou o processo de paz de Oslo, mas também quase não o seguiu.
Apesar de uma promessa anterior de nunca se encontrar com "aquele homem", Netanyahu concordou, sob pressão americana, em se reunir com Iasser Arafat.
Mas, mesmo quando conversaram, ele não ofereceu nada de específico sobre os assuntos mais importantes (especialmente a retirada parcial de Hebron).
Netanyahu marginalizou membros de "linha dura" do gabinete, mas os deixou expandir os assentamentos judeus na Cisjordânia.
Foi uma decisão pessoal de Netanyahu a reabertura da nova saída para o túnel. É difícil ver por que um túnel antigo causaria tal fúria palestina. Mas o sentimento na Cisjordânia está inflamado por causa de uma série de decisões.
Netanyahu é um pragmático e um "fechador de acordos", mas chefia um partido ideológico em uma coalizão ideológica.
Sem saber resolver a situação, ele segue por instinto. O Ocidente acredita que a necessidade econômica da paz na região vá obrigá-lo a negociar com Iasser Arafat.
O pior cenário para o Oriente Médio é a volta da violência. O melhor é Netanyahu continuar moderadamente com o processo de paz, até chegar a um ponto crítico.
A crise ocorrerá quando os seus instintos de promover acordos colidirem com a ideologia do seu partido quanto aos principais assuntos: o futuro de Jerusalém, o desenho final da Cisjordânia e o estatuto final dos palestinos.

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