São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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ANOREXIA EUROPÉIA

Nos próximos dias a economia mundial será tema de avaliações fundamentais. Autoridades econômicas, financistas, economistas e técnicos de organismos multilaterais estarão em Washington para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, assim como para debates no Banco Interamericano de Desenvolvimento. Como se a economia global, por meio de alguns de seus principais protagonistas, parasse um instante para se olhar no espelho.
O rito inicial desse processo de auto-avaliação e prospecção de tendências foi dado ontem com a divulgação do "World Economic Outlook" (Perspectiva Econômica Mundial) pelo FMI. Seria um relatório a mais, em mais uma reunião burocrática, não fosse a mensagem surpreendente que ele contém.
Para os técnicos do Fundo, que não podem ser acusados de "heterodoxia" e muito menos de desprezo pelos princípios de austeridade fiscal e equilíbrio macroeconômico, a questão do crescimento deve ser colocada em primeiro plano.
O motivo dessa surpreendente mudança de ênfase está no drama econômico europeu, que arrasta consigo massas de desempregados e uma instabilidade institucional que ameaça o projeto de integração. Diante desse quadro, o Fundo adverte a União Européia contra a teimosia na defesa de políticas fiscais austeras num ambiente de enormes dificuldades para retomar o crescimento, que os economistas denominam de "política fiscal pró-cíclica". Ou seja, o momento do ciclo econômico, de baixa ou, no mínimo, de dificílima retomada do crescimento. Nesse contexto, aumentar impostos ou cortar gastos públicos (ou seja, a austeridade fiscal) dificulta ainda mais o reaquecimento da economia.
O Fundo sublinha a importância de se contar com um horizonte de médio e longo prazo em que sejam promovidas reformas estruturais e efetivamente saneadas as contas públicas. No curto prazo, porém, a austeridade fiscal obsessiva pode ser fatal.
A UE é uma parte essencial da ordem econômica mundial. Para o Fundo, é preferível ter um déficit público maior a conviver com sociedades à beira da anorexia econômica.

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