São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 1996
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Erundina prefeita

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tenho percorrido o Brasil inteiro para apoiar os candidatos petistas e das forças coligadas. Em poucos lugares tenho visto uma imprensa tão claramente tendenciosa como em São Paulo. Alguns jornais chegam a torcer por um segundo lugar entre Serra e Pitta sem nenhuma sutileza, violando todas as regras dos manuais de redação.
Com esse tipo de cobertura, perdem o jornalismo brasileiro e a própria democracia que estamos construindo e consolidando em nosso país. Perdem também os próprios jornais que adotam essa postura, à medida que se desqualificam perante seus leitores e não conseguem impor o resultado eleitoral pretendido.
Estou seguro de que Erundina estará no segundo turno e vai derrotar o candidato do malufismo, que continuará despencando em todas as pesquisas, conforme a população vá sendo informada de que seus blefes publicitários, como o Cingapura, o PAS e os túneis superfaturados, não passam de marketing eleitoral.
De onde vem a força de Erundina? Como essa companheira consegue manter-se com tanta força na disputa, mesmo enfrentando a parcialidade dos grandes meios de comunicação e a violenta enxurrada de dinheiro que Serra e Pitta despejam na campanha de São Paulo?
O prestígio de Luiza Erundina está consolidado, antes de mais nada, pela memória positiva que a maior parte da cidade mantém a respeito de seu governo, entre 1989 e 1992. Foi um governo que optou pelas creches e escolas, pelos hospitais na periferia, pelos mutirões, que construíram dez vezes mais que o Cingapura, pelos sacolões para vender mais barato em cada bairro. Enfim, um governo que colocou o social em primeiro lugar.
Outro motivo de seu crescimento está no alto nível de campanha que o PT vem mantendo, em contraste com o bate-boca da encenação que montaram por meio de Sérgio Motta para criar uma falsa polarização entre PSDB e PPB na capital paulista, como se esses partidos não fossem irmãos e sócios no ministério de Fernando Henrique.
Nesse sentido, vale recordar que, antes de os tucanos conseguirem convencer um de seus nomes a aceitar o sacrifício da disputa em São Paulo, vista desde sempre como luta perdida, Maluf e FHC viviam se derretendo em gentilezas recíprocas ou fechavam bons negócios políticos, no velho estilo do "é dando que se recebe", como ocorreu no vergonhoso apoio do PPB para barrar a CPI dos Bancos, em troca de rolagem na enorme dívida que Maluf contraiu para fazer seus túneis e viadutos.
Além desses fatores, a solidez da candidatura Erundina é fruto de nosso combate ao neoliberalismo presente na política econômica de FHC, que elevou o desemprego a patamares explosivos, destruiu setores inteiros da produção nacional, triplicou as falências e concordatas, além de permitir o agravamento das condições de vida nas áreas rurais, com o previsível acirramento das justas mobilizações dos lavradores sem-terra.
Decorre também da denúncia permanente que exercemos sobre o fisiologismo que marca o governo tucano em escala federal e sobre sua decepcionante cumplicidade com as falcatruas detectadas nos escândalos do Sivam, do banco Econômico, do Nacional e em tantos outros episódios, quando o presidente da República preferiu manchar a imagem de honestidade que o acompanhou por várias décadas para não perder apoio entre seus aliados conservadores.
Em síntese, Luiza Erundina será a futura prefeita de São Paulo porque fez um governo sério, honesto e voltado para as populações de baixa renda. Será prefeita porque o PT já provou que é bom de governo em tantas experiências espetaculares como Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio Branco, Diadema, Santos e tantas outras. E porque está fazendo uma campanha de excelente nível, construtiva, baseada em propostas consequentes e viáveis para a capital.
Sua vitória será mais uma demonstração de que a população brasileira, como um todo, começa a retomar aquela disposição de luta e a vontade de mudança que geraram as "Diretas Já" e o impeachment de Collor.
A imprensa tem falado muito pouco do crescimento do PT em todo o Brasil. Ela prefere concentrar seu noticiário sobre duas ou três capitais, valorizando com ênfase as candidaturas tucanas, mesmo quando elas estão na segunda ou terceira colocação.
Mas posso antecipar que o PT está vivendo um enorme fortalecimento em regiões novas, onde triplicará seu percentual de votos, sem falar do impacto que terá sobre a conjuntura nacional o forte desempenho observado em redutos estratégicos como Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio Branco, Campo Grande, Maceió, Aracaju, Caxias do Sul, ABC paulista, Vale do Aço e tantas outras cidades deste país.

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