São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Contrabando de armas deve crescer no MS

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A PEDRO JUAN CABALLERO (PARAGUAI)

A suspensão da exportação de armas pelos EUA para o Paraguai deverá criar um mercado negro de armamentos norte-americanos na região fronteiriça do Brasil.
Com a previsão, feita à Folha por comerciantes de armas de Pedro Juan Caballero (cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul), concordam policiais brasileiros e paraguaios encarregados de vigiar os limites dos dois países.
Os EUA anunciaram há dois dias que deixarão de exportar armas ao Paraguai. O objetivo é impedir que armamentos pesados sejam contrabandeados para o Brasil.
A região de Pedro Juan Caballero (a cerca de 600 km da capital paraguaia, Assunção) é considerada pela PF (Polícia Federal) como a principal fornecedora de armas pesadas para as quadrilhas criminosas radicadas no Rio.
Em Pedro Juan Caballero, funciona desde 1995 um mercado clandestino de venda de fuzis, principalmente para brasileiros.
No ano passado, a pedido do governo do Brasil, o Paraguai proibiu as lojas de armas de vender os fuzis preferidos por traficantes cariocas -o norte-americano AR-15, o AK-47 (de países do antigo bloco socialista europeu, China e Coréia do Norte), o FAL (Fuzil Automático Leve) e o Ruger Mini 14 (fabricado nos EUA).
Apesar de proibida, a venda continua em Pedro Juan Caballero, onde cerca de 20 lojas de "artigos de caça e pesca" comercializam todo tipo de armas.
Oficialmente, as lojas não vendem essas armas. Para clientes conhecidos, a história é outra: o AR-15 custa US$ 2.500, e o Ruger Mini 14 vale US$ 1.200.
Na loja Monte Líbano (avenida Dr. Francia, a principal do centro do comércio da cidade paraguaia), a caixa de munição de AR-15, com 50 cartuchos, custava R$ 25 na manhã de ontem. A caixa com 20 cartuchos de calibre 7.62 (apropriado para FAL) estava custando R$ 25.
O dono da Monte Líbano, um brasileiro, foi procurado pela Folha, mas não quis se identificar e expulsou a reportagem de sua loja.
Ponta Porã e Pedro Juan Caballero não têm barreira fiscalizatória que as separe. De um lado da avenida Internacional é Brasil. Do outro, Paraguai.
A prioridade da PF na área, segundo o delegado Delci Teixeira, diretor da divisão, é patrulhar os cerca de 550 km de fronteira seca e vistoriar ônibus de sacoleiros.
O comissário-interino da Polícia Nacional paraguaia em Pedro Juan Caballero, Calixto Aguero, disse que irá reprimir o mais novo mercado negro que, segundo ele, deve ser criado na fronteira.
"Essa é a nossa tarefa. A parte legal é com o governo. A gente obedece", afirmou Aguero.

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