São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Pizza Piazza

JUCA KFOURI

Wilson Piazza foi um dos maiores ladrões de bola do futebol brasileiro. Excepcional no desarme, reinou no meio-campo do Cruzeiro por 15 anos e acabou deslocado para a quarta zaga na Copa de 1970, já que Clodoaldo era absoluto como volante.
Piazza jogou num Cruzeiro de sonhos, ao lado de craques como Zé Carlos, como o mágico Dirceu Lopes e como Tostão, simplesmente um gênio.
Não tinha o brilho desse trio, mas era um digno participante do quarteto. Além do mais, era de uma regularidade tão impressionante que, um dia, levou Tostão a fazer o seguinte comentário (antecipando, por sinal, o brilhante comentarista de TV que ele é): "Piazza joga tão bem um amistoso contra um time da segunda divisão mineira como uma decisão contra o Santos de Pelé".
Terminada sua carreira de atleta, Piazza enveredou pelos caminhos da política. Foi deputado estadual, virou um eterno presidente da Associação de Garantia aos Atletas Profissionais (Agap) de Minas Gerais, administrador do Mineirão e, recentemente, aceitou um cargo na CBF para cuidar de assuntos semelhantes aos da Agap, um tipo de curadoria de atletas aposentados.
O leitor já percebeu que, depois de elogiar o atleta Piazza, vou criticá-lo em seu novo papel.
Lamento fazê-lo.
Piazza, hoje uma espécie de funcionário público nomeado, atribuindo-se uma representatividade que não tem, produziu documento respaldando a posição dos clubes na polêmica sobre a mudança na lei do passe, defendendo, por exemplo, uma carência de três anos para a entrada em vigor da resolução assinada por Pelé.
O documento foi entregue à CBF e servirá para Ricardo Teixeira dizer, como se tivesse ouvido os jogadores, que a resolução é prejudicial aos atletas.
Tristes trópicos, os nossos.
Quem representa os atletas são os sindicatos, que estão fechados em torno das medidas. Minas Gerais, por sinal, diferentemente do Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro, não tem sindicato, deficiência atribuída exatamente a Piazza, que dificultaria toda e qualquer tentativa de organizá-lo.
Há uma surda, por enquanto, revolta entre os sindicalistas, dispostos a denunciar o ex-craque do Cruzeiro como ilegítimo e, para usar uma expressão em desuso, como pelego. Para eles, Piazza quer que tudo acabe em pizza, o que deve queimá-lo.

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