São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Crítica francesa demole Ballet Stagium

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LYON

A 7ª Bienal da Dança de Lyon (França), cujo tema deste ano é o Brasil, entrou em sua terceira semana comemorando o sucesso de sua programação. A exceção surgiu terça-feira, com a estréia do Ballet Stagium, que despertou a ferocidade da crítica.
Reconhecido no Brasil por sua importância histórica, uma vez que contribuiu para a popularização da dança no país, o Stagium se projetou nos anos 70. Sendo a dança uma expressão sem palavras, conseguiu se esquivar da censura da época mesmo encenando temas que então eram reprimidos em áreas como o teatro e a música.
Só que, com o tempo, o Stagium não se renovou esteticamente. Agora, em Lyon, deixa claro que está na hora de mudar seu repertório, se abrir para novos coreógrafos e, assim, garantir sua sobrevivência.
Apontando a falta de rigor, profundidade, força, imaginação e beleza das coreografias apresentadas pelo grupo na Bienal, o crítico F. Cohendy, do maior jornal de Lyon, o "Le Progrs", chegou a comentar que o espetáculo do Stagium ficou deslocado, por sua pobreza, no Teatro da Ópera da cidade.
Segundo Cohendy, o palco que costuma receber obras dos mais prestigiados coreógrafos contemporâneos, como Forsythe e Kylian, não combina com o "show" superficial do Stagium.
"A companhia estaria melhor colocada num podium gratuito, em um domingo ao ar livre", escreveu Cohendy.
Novos coreógrafos
Para compensar, os novos coreógrafos brasileiros vêm marcando presença na Bienal. Mesmo Helena Bastos, que estreou nesta semana o espetáculo "Gordolinda", não chegou a desagradar, apesar do experimentalismo e simplicidade formal de seu espetáculo.
Entretanto, a revelação ficou por conta de Marcia Milhazes, do Rio de Janeiro, que apresentou "Santa Cruz". Inspirada no romance "Dom Casmurro", de Machado de Assis, esta coreografia é dançada por três bailarinos -Al Crisppin, Luciana Yegros e a própria autora.
Sem recorrer a recursos narrativos, Milhazes se vale de uma escritura coreográfica sofisticada. Mesmo fazendo uma abordagem barroca dos movimentos, consegue desenvolvê-los com arrojamento, densidade e leveza.
Tudo indica que Milhazes é um dos talentos mais promissores da nova dança brasileira.

A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou a convite da organização do festival

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