São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Cinemateca traz as várias faces de Varda

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Agnès Varda é uma cineasta de muitas faces. Elas mostram-se de hoje até 3 de outubro no ciclo "Varda por Agnès", programado pela Sala Cinemateca.
Em Varda existe, para começar, a pioneira. Seu "La Pointe Courte", de 54, é o primeiro longa de um cineasta do que viria a constituir, quatro ou cinco anos mais tarde, a nouvelle vague francesa.
Mais: foi feito num momento em que as mulheres raramente chegavam a dirigir um filme.
Em Varda há também a parisiense da Rive Gauche (do documentário "Daguerréotypes", sobre os tipos da rue Daguerre -no 14º Distrito de Paris-, por exemplo), a mulher atenta às questões sociais ("Os Rejeitados") ou a feminista (do curta "Réponse de Femmes/Resposta de Mulheres").
O que unifica essas várias facetas é uma sensibilidade especificamente feminina, o aspecto mais evidente em "Cléo das 5 às 7" (1961), o trabalho mais famoso desta cineasta nascida em Bruxelas, em 1928.
Já em "Cléo", porém, nota-se outra linha forte de sua obra: o cinema visto como possibilidade de apreensão do real. Ali, o uso do tempo real (duas horas na vida de Cléo são mostradas em 85 minutos) evidencia essa preocupação.
Agnès Varda usou outros princípios que nortearam a nouvelle vague: filmar seres reais, experiências corriqueiras, fazer do cinema uma experiência de liberdade.
Daí, por exemplo, misturar ficção e documentário sem cerimônia em "Os Rejeitados" (Sans Toit ni Loi, 1985). Ou fazer uma homenagem a um tempo pessoal e profissional a seu marido, o cineasta Jacques Démy (1931-1990), em "Jacquot de Nantes" (1990).
O caráter múltiplo de sua obra não a preserva de fracassos (como "L'Une Chante, L'Autre Pas/Uma Canta, a Outra Não", de 1976), mas deixa como marca uma inquietude que lhe permite transitar do lirismo de "As Duas Faces da Felicidade" (1964, único de seus principais trabalhos ausente da mostra) a um documentário sobre o Irã ("Plaisir d'Amour en Iran/Prazer de Amor no Irã", de 1976).
No total, o ciclo traz seis longas de ficção, dois documentários longos e sete curtas-metragens. Os longas "Les Créatures/As Criaturas" (de 1965) e "Daguerréotypes" e o curta "Elsa la Rose" (de 1965, sobre o casal Louis Aragon/Elsa Triolet) não estão legendados. Todos os demais têm legendas em espanhol.

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