São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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'O Livro de Cabeceira' é Greenaway acessível

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ao ser lançado em maio último, dentro da mostra paralela "Um Certo Olhar", do Festival de Cannes, o longa-metragem "O Livro de Cabeceira" ("The Pillow Book") superlotou salas, acumulou aplausos e se tornou um autêntico sucesso de público.
Isso não acontecia ao cineasta britânico Peter Greenaway desde a explosão com "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante", realizado em 1989.
Nenhuma surpresa, mesmo para o diretor, que reconheceu à Folha: "Eu o considero, dentre meus filmes, um daqueles que mais diretamente se oferece ao espectador".
Rascunho
O ponto de partida é um texto exatamente milenar em 1996 da literatura japonesa, escrito por Sei Shonagon, uma servente da dinastia Heian.
Greenaway o transformou no diário contemporâneo de uma jovem, Nagiko (Vivien Hu), que ascende socialmente trabalhando nos bastidores do mundo da moda.
O grande sonho de Nagiko é tornar-se escritora como o pai. Impõe-se, assim, o domínio da arte japonesa da caligrafia.
Para tanto, a jovem oferece a pele de seu corpo como rascunho vivo. Ultrapassada a primeira etapa, escreve os 13 livros de sua primeira obra nos corpos de diversos amantes e voluntários.
Em Hong Kong, dá-se o encontro com o mais marcante dos namorados, um tradutor chamado Jerome, vivido pelo ator Ewan McGregor imediatamente antes da revelação com "Trainspotting - Sem Limites".
Janelas
Greenaway lança mão de um roteiro com estrutura circular para apresentar sua panorâmica sobre 28 anos de vida da protagonista. Como nunca, o diretor banha seu filme com sensualidade e amor à vida.
Estamos anos-luz do universo sombrio de seu filme anterior, "O Bebê de Macon" (1993).
A experiência com edição eletrônica por computador de "A Última Tempestade" (1991) ressurge aqui aplicada a uma trama litero-erótica à moda de "O Cozinheiro, o Ladrão, Sua Mulher e o Amante".
A multiplicidade de telas simultâneas de textos e imagens não mais se compõe em camadas como num palimpsesto audiovisual, mas sim em séries de janelas de diversos tamanhos e formatos.
A leitura ganha nitidez sem perder impacto.
O britânico "O Livro de Cabeceira" reconcilia o diretor Peter Greenaway com o prazer da narração em cinema.

Filme: O Livro de Cabeceira (The Pillow Book)
Direção e roteiro: Peter Greenaway
Com: Vivian Wu, Ewan McGregor, Ken Ogata, Yoshi Oida, Hideko Yoshida Produção: Grã-Bretanha, 1996
Fotografia: Sacha Vierny
Vestuário: Emi Wada
Montagem: Chris Wyatt e Peter Greenaway
Duração: 126 minutos
Quando: hoje, às 15h e 19h, e amanhã, às 14h30
Onde: Espaço Unibanco de Cinema - sala 1 (r. Augusta, região central da cidade de São Paulo, 1.475/1.470, tel. 288-6780)

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