São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996 |
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Curadores se deparam com casos pitorescos
DA REDAÇÃO Para escolher os 62 artistas que participarão do "Antarctica Artes com a Folha", os cinco curadores do projeto e seus assistentes visitaram mais de 1.300 ateliês espalhados pelo país.As viagens consumiram sete meses e, às vezes, resultaram em histórias pitorescas. Conheça algumas, que tiveram como personagens artistas não selecionados. O barraco pop Em Teresina, o curador recebe a informação de que um menino de rua se tornara pintor. Resolve procurá-lo com o auxílio de assistentes sociais. Seguem para uma favela na periferia da cidade. Encontram o rapazinho, de 14 anos, à porta de um barraco. Entram e se deparam com uma genuína -ainda que involuntária- instalação pop. Todas as paredes de madeira estão recobertas por pinturas em tamanho natural de Silvester Stalone e Arnold Schwarzenegger. Os dois usam sunga e fazem poses de halterofilista. Schwarzenegger tem ainda um toque tropical: a pele morena, quase negra. O ateliê ambulante O curador está dormindo num hotel de Fortaleza quando, às 6h, escuta o telefone. É um artista do interior. Ansioso por exibir seus quadros, colocou-os todos na carroceria de um caminhão e ganhou a estrada. Viajou a noite inteira até a casa do irmão, na capital cearense, onde montou uma vasta exposição. A morena nua Em Manaus, o curador examina as obras de uma jovem artista. Pergunta se há outras. "Claro", responde a morena. "Mostro mais tarde." À noite, ela o procura num centro cultural e lhe entrega uma série de fotografias. Em todas, aparece nua. Usa apenas adereços: anéis, pulseiras, cocares. "É uma performance", comenta singelamente. Beatles for ever O curador e seu cicerone chegam à casa de um artista do Piauí. Dois cães dormem à porta, sob o sol de 40 graus. No teto, gaiolas de passarinhos. Em alto volume, o aparelho de som toca blues. O artista, eufórico, vem dos fundos agitando um CD nas mãos. "Bicho, olha que genial", exclama para o cicerone. "Você precisa ouvir isso. Esquece o Sgt. Peppers, cara, esquece o Sgt. Peppers!" Ninguém ousa perguntar de que disco, afinal, está falando. A estética da mancha Em Belém, o curador visita um, dois, três... oito fotógrafos. E repara que a maioria exibe trabalhos com manchas. Uma estética da região?, pergunta-se. "Sim", alguém esclarece, "uma estética regional e de certo modo compulsória." Na capital paraense, a umidade excessiva do ar dificulta que os papéis fotográficos sequem completamente. Tornam-se, então, alvo de fungos, que acabam por manchá-los. A folha O curador desembarca em Rio Branco. Busca referências sobre ateliês locais numa associação de artistas plásticos. Explica o que procura para o diretor da entidade. Cita o nome do projeto: "Antarctica Artes com a Folha". "Então, você está no lugar certo", interrompe o diretor. Sai e retorna com uma enorme folha de trepadeira, em que pintou imagens da floresta amazônica. "Gosta? Se não gostar, tenho trabalhos com outros tipos de folha." Texto Anterior: 'Antarctica Artes' traz de tudo um pouco Próximo Texto: Saiba onde estacionar durante a mostra Índice |
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