São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 1996
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Volta o conflito, agora com armas dos dois lados

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

O conflito dos dois últimos dias entre Israel e os palestinos tem todas as características do retorno à intifada, a rebelião feita com pedras, mas com uma agravante: agora não há apenas pedras nas mãos dos palestinos.
Nos fragmentados pedaços do território autônomo palestino, há um corpo policial armado, o que só faz aumentar, exponencialmente, as perspectivas de que corra ainda mais sangue do que na intifada original (leia sobre a intifada à página seguinte).
A volta ao conflito é reflexo direto do congelamento do processo de paz no pior dos mundos possível.
Para chegar a essa conclusão não é necessário sequer entrar na discussão de fundo sobre a criação ou não de um Estado palestino e, em consequência, sobre a localização de sua capital (a parte oriental de Jerusalém ou alguma outra área), o retorno dos refugiados etc.
As negociações conduzidas pelo governo trabalhista criaram, nos palestinos, a óbvia (e justa) expectativa de que o "apartheid" de fato a que estavam condenados seria superado, com dificuldades e também com concessões, maiores do lado palestino, por ser a parte mais fraca.
Nem paz nem segurança
Já o governo conservador do premiê Binyamin Netanyahu vendeu ao eleitorado a tese de que era possível conseguir a paz com segurança.
Ambas as expectativas são incompatíveis com a paralisação do processo de paz.
Os palestinos continuam dependendo, no seu cotidiano, de decisões do governo de Israel, das quais não participam. Têm um território autônomo fragmentado, o que inviabiliza qualquer projeto de desenvolvimento econômico.
O grande exemplo dessa situação insuportável é a cidade de Hebron, na Cisjordânia, em que um punhado de colonos judeus parte ao meio uma área habitada por 120 mil palestinos, submetidos à humilhações cotidianas.
Hebron é a única grande cidade da Cisjordânia da qual Israel não se retirou, embora o acordo de paz estabelecesse o contrário.
Para os israelenses, a insegurança agravou-se. Antes, qualquer confronto envolvia tropas israelenses de um lado e civis, em geral desarmados, de outro. Era cruel para os palestinos, mas era um jogo conhecido.
Agora, o confronto envolve tropas dos dois lados, ambos armados, como ocorreu nos conflitos dos últimos dias.

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