São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Para Ipea, dívida pública pode crescer

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, a dívida pública brasileira, um dos calcanhares de Aquiles da economia do país, ainda tem espaço para crescer, passando dos atuais 31,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para cerca de 35% do PIB.
O PIB mede a soma das riquezas (bens e serviços) produzidas pelo país num período de 12 meses. Em 1995, ele ficou em cerca de R$ 640 bilhões.
Pelo conceito que soma a base monetária à dívida, e com a base nos níveis de hoje -2,5% do PIB-, a dívida total chegaria a 37,5% do PIB. Pelo mesmo conceito, ela está em 34%, segundo Levy.
O problema da dívida será discutido na análise conjuntural do boletim do Ipea que deverá ser divulgado na próxima segunda-feira.
"Esqueletos no armário"
Levy disse que uma parte do crescimento da dívida que está sendo observada atualmente decorre do esforço do governo para resolver pendências antigas que estavam encobertas nas contas públicas. Entre elas, Levy citou o rombo do Banco do Brasil.
Na linguagem da equipe econômica do governo, esses acertos significam que estão sendo retirados "os esqueletos do armário" para que não sigam pregando sustos.
Levy disse que a hipótese de estabilização da dívida pública está calçada em uma análise que inclui, além da estabilização econômica, a obtenção de um superávit primário (receitas menos despesas públicas, exceto pagamentos de juros) de 1,8% do PIB.
Juros reais
A análise pressupõe ainda que os juros reais deverão ficar na casa de 12% ao ano e que o programa de privatização do governo vai gerar recursos médios anuais de 0,5% do PIB, com a finalidade de serem abatidos da dívida pública.
A avaliação geral do Ipea, feita ontem para jornalistas pelo seu presidente, Fernando Rezende, especialista em tributação, e outros membros da cúpula do órgão, é otimista.
Sobre o déficit, Rezende disse que "não há hipótese de que venha a ocorrer um descontrole das contas públicas nos próximos anos", embora admita que o déficit é um problema a resolver.
Desemprego
Sobre o desemprego, a avaliação do Ipea, expressa por seu diretor Cláudio Considera, é que, embora preocupante, está longe dos extremos negativos internacionais.
Ele disse que esse desemprego tem como principal causa o maior número de pessoas que entraram no mercado de trabalho após a estabilização.
Quando um jornalista buscou um paralelo com as dificuldades enfrentadas pela Argentina, Considera disparou: "Dá para pensar que não temos nada a ver com a Argentina?".

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