São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Sambistas contam história das escolas

Jornalista lança livro com perfis e entrevistas

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Contar a história de movimentos culturais passa pelo relatório dos grandes nomes que os fizeram. A história do samba, entretanto, é oral e narrada por personagens anônimos.
O jornalista Sérgio Cabral, que acaba de lançar "As Escolas de Samba do Rio de Janeiro", passou 37 anos colhendo relatos de sambistas cariocas de todas as escolas da cidade. "Colocá-los no livro é imortalizar um passado que está quase apagado", diz.
O livro, lançado pela Lumiar, reúne 17 perfis e entrevistas com sambistas, como Ismael Silva, Mestre Marçal, Cartola e Dona Ivone Lara.
Sérgio Cabral interessou-se pelo assunto em 1957, quando era repórter do "Jornal do Brasil" e passou alguns anos como setorista de Carnaval.
"Não sei se teria me envolvido tanto com o Carnaval se ele fosse como é hoje em dia", diz Cabral, que prefere relembrar a festa da década de 60.
"Hoje a música é acelerada porque os sambistas têm pouco tempo e desfilam correndo, perdeu em ritmo."
O livro faz a gênese do samba no seio da sociedade carioca das primeiras décadas do século, quando as danças de salão ganharam as ruas e fundiram-se com os ritmos africanos. "Não é um tratado sociológico, mas fiz questão de inserir no contexto carioca."
"Deixa Falar", bloco carnavalesco conhecido como a primeira escola de samba -criado em 1928-, tem capítulo à parte. Foi o responsável por "limpar a barra" dos sambistas com a polícia, que regulava as rodas de samba.
O livro reconstitui os primeiros encontros entre os amantes do gênero, na virada do século, que tiveram dificuldades para legalizar os seus encontros.
Usavam reuniões de macumba para difundir o samba, pois "os policiais tinham dificuldade em distinguir samba de música religiosa".
Outra passagem histórica é a do primeiro encontro entre cinema e carnaval, em 34, durante as filmagens de "Favela dos Meus Amores", de Carmem Santos e Humberto Mauro, em que a Portela participa.
Segundo Cabral, os primeiros desfiles foram "criados" pelo jornalista Mário Filho. Enquanto diretor do jornal "Mundo Sportivo", interessou-se pelo samba da periferia, encomendou uma série de reportagens e promoveu o primeiro grande encontro.
"Naquela época, o desfile tinha outra linguagem, diferente do espetáculo plástico e televisivo que representa hoje."

Livro: As Escolas de Samba do Rio de Janeiro
Autor: Sérgio Cabral

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