São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996 |
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Luis Melo frustra em 'Sonata Kreutzer'
NELSON DE SÁ
Demoliu a imagem de que os atores sumiam sob a encenação e abriu fase nova ao grupo Macunaíma. (Abriu e fechou, quando saiu e deixou vago o posto de primeiro ator da companhia.) Como Paulo Autran nos anos 50, ele não fez Hamlet, mas fez o restante e o bastante para ser aclamado como a representação maior da presente geração de atores. Pois é na qualidade de Paulo Autran -depois da popularização, depois da televisão- que ele surge com o monólogo "Sonata Kreutzer", de Eduardo Wotzik, baseado em obra de Tolstói. Uma frustração, para quem viu Luis Melo como Macbeth ou Gilgamesh. Está carregado de maneirismos de "grande ator", antes empostando uma interpretação de qualidade do que atingindo. Fala atropelado; por vezes, arqueia as pernas; anda de um lado para outro sem explicação, em sofreguidão. Funga. Deixa a impressão de que precisaria de Antunes, não para crescer em cena, como aconteceu até o início da década, mas para ser contido, para não se deixar tomar pelo mito de si mesmo. E treme demais a cabeça; em momentos, ri além da conta; interpreta a caricatura de um bom intérprete, mais do que a personagem que recebeu. Personagem que, na verdade, não poderia ser melhor, para quem está começando a trilhar a turnê do monólogo. (Cabe o registro de que o gênero, o monólogo, é o preferido de intérpretes mitificados, desde Autran, passando por Fernanda Montenegro e Marília Pêra, resultando em peças, não de teatro, mas de fascinação -de consagração do mito midiático.) Pódzdnyshev, a personagem, recorda o que o levou a matar a própria mulher, possuído por ciúme. Revive passo a passo a tragédia, em detalhes mínimos, sobretudo na passagem de maior horror. Embora a adaptação/encenação de Eduardo Wotzik confunda em boa parte da apresentação, não se trata de mais um espetáculo para terapia de casais, como tantos nesta temporada de teatro. "Sonata Kreutzer" é, antes de mais nada, uma afirmação da própria vida, da existência, tomando a "vida conjugal", expressão da montagem, como contraponto de fato medíocre, menor. A atuação de Luis Melo, se em momentos resvala pela magnitude existencial almejada, na maior parte do tempo está mesmo a refletir o melodrama de casais. Os mesmos que gritam "bravo", por segundos, no final. Peça: Sonata Kreutzer Quando: quinta a sábado, às 21h30; domingo, às 20h30 Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611) Quanto: R$ 8 Texto Anterior: Sambistas contam história das escolas Próximo Texto: Bethânia chega aos 50 com CD 'delicado' Índice |
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