São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Estréia da artista em 65 é recuperada

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

A volta de Maria Bethânia é pretexto para um relançamento de peso: há muito fora de catálogo, chega ao CD "Maria Bethânia", seu primeiro disco, lançado em 1965. Aqui se encontra o clássico "Carcará" (João do Vale-José Cândido), que a elevou ao estrelato.
É o nascimento artístico da cantora, revelada ao Brasil naquele mesmo ano ao ser importada da Bahia para o centro para substituir a musa Nara Leão no show "Opinião". Tinha 19 anos e, por conta da viagem, foi reprovada pela quarta vez no quarto ano ginasial.
Já estava fadada a ser cantora -desde o nome, sugerido pelo irmão Caetano Veloso (4 anos de idade quando ela nasceu), apaixonado pela canção "Maria Betânia", de Capiba, que ouvia no rádio na voz de Nelson Gonçalves.
Ainda que pesado de tradicionalismo -e ela seria para sempre avessa a modas-, o disco se destacou da massa por divergir da canção de protesto que fazia vicejar uma segunda e revoltada geração bossa nova. Mais que isso, aí foram lançadas as bases da nova MPB.
Provas não faltam: aqui aparecem a primeira gravação de uma música de Caetano, "De Manhã", e a primeira gravação da voz de Gal Costa, então Maria da Graça, em "Sol Negro" (com arranjo do futuro maldito Jards Macalé).
Não só a presença dos futuros tropicalistas faz do disco precursor do movimento. Aqui se inaugura a retomada da tradicional canção brasileira, que a tropicália levaria às últimas consequências.
Bethânia faz releituras irretocáveis de João de Barro ("Anda Luzia"), Noel Rosa ("Feitio de Oração" e "X do Problema"), Caymmi ("Nunca Mais") e Monsueto Menezes ("Mora na Filosofia"). O mestre Nelson Cavaquinho toca violão na perfeita "Feiticeira".
A estréia é apenas promessa do que Bethânia teria a mostrar -em discos como "A Tua Presença..." (71) ou o radical "Drama" (72), inexplicavelmente mantidos fora de catálogo pela PolyGram-, mas, ainda assim, histórica.

Disco: Maria Bethânia
Lançamento: BMG
Preço: R$ 18, em média

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