São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Antonio Dias visita "Antarctica Artes"

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em rápida passagem por São Paulo, para preparar sua nova instalação na galeria Luisa Strina, o artista plástico Antonio Dias visitou anteontem o pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, no Ibirapuera, onde abre amanhã a mostra "Antarctica Artes com a Folha".
Depois da visita, Dias partiu para o Rio, onde prepara a individual "100=", na galeria Paulo Fernandes; participa da coletiva "Transparências", no MAM-Rio; e ainda desenvolve projeto especial para o Paço Imperial, também no Rio.
"É uma exposição muito gostosa", resumiu, depois de duas horas de passeio pelo pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, projetado por Oscar Niemeyer.
O artista destacou ainda a qualidade dos artistas fotógrafos e a falta de um trabalho a pintura mais consistente. "A pintura em geral não tem linhas bem definidas, embora apresentem, isoladamente, alguns aspectos interessantes", disse.
Dentre os artistas presentes, destacou os trabalhos da campineira Vânia Mignone, que parte da xilogravura para realizar experiências em pintura, que utilizam o seu universo íntimo para abordar questões mais abrangentes do imaginário feminino.
Esse imaginário também foi destaque na observação de Dias sobre a obra de Raquel Garbelotti, que cria falsos "móveis modulares", que chama de "inutilitários".
"Ela traz a presença feminina muito forte. A gaveta em si é um objeto muito feminino, onde se guardam todas as lembranças. Toda sua vida está ali".
Vários artistas partem de uma linguagem para chegar a uma outra. Rosana Monnerat aplica noções de gravura para chegar em sua pintura sobre gesso (Dias preferiu as gravuras).
Afonso Tostes, que é assistente de Dias no Rio, realiza um tipo de "gravura cega", sem pigmento, ao deixar a marca do estilete sobre o papel ("ele tem ótimos trabalhos de pintura"', disse Dias).
Tem ainda Jonathan Gall, que parte do desenho com lápis quase sem ponta para gravar seu traço no papel. "Gall é interessante, embora remeta muito a Cy Twombly. Interessante também é o diálogo que estabelece com o serialismo."
Entre os fotógrafos, Dias interessou-se pelo trabalho da pernambucana Patrícia Azevedo. "É uma artista que aborda o universo infantil e familiar de maneira muito inteligente, além de trabalhar com um grafismo inteligente e sensível", disse.
As transparências de Tatiana Grimberg também atraíram muito a atenção de Antonio Dias. "Gosto muito", revelou, depois de ter perguntado como a artista ordenaria os fios de plástico, as mãos de silicone costuradas com contas e os vidros colados de sua instalação.
Ao ver a instalação de Rivane Neuerschwander, feita apenas com cascas de alho, Dias comentou: "Gostei muito de seu método obsessivo e também delicado, sensual e sensorial".
A forte presença de artistas mulheres impressionou o artista. "O Brasil sempre teve uma tradição muito forte em artistas mulheres, desde Tarsila."
Dias também se impressionou com as características brasileiras nos trabalhos do paraibano Martinho Patrício, da paraense Flávia Mutran e do goiano Divino Sobral. "Patrício lembra a pintura popular de Nassar, mas seu trabalho não é pintura e também não é objeto. Trabalha com elementos folclóricos sem sê-lo", disse.
Sempre curioso, parou ainda para conversar com Stela Barbieri, que prepara sua instalação. "Faz dias que estou aqui. Isso já virou meu atelier". Barbieri possui uma relação muito forte com os materiais que utiliza em suas instalações, muitas vezes efêmeras.
Dias cheira a instalação e lembra de Oiticica. "Hélio tinha uma caixinha de café que cheirávamos."
Pergunta sobre os pigmentos que usa e como a artista trabalha com o látex. "Quanto tempo dura o látex?", pergunta Dias. "Pouco", responde Stela. "A luz destrói o látex, assim como faz com a vitamina C", complementa Dias.

Mostra: Antarctica Artes com a Folha
Onde: pavilhão Padre Manoel da Nóbrega (antiga sede da prefeitura), no Ibirapuera (entrada pelo portão 10)
Abertura: amanhã, dia 29, às 11h (convidados) e 14h (público em geral)
Quanto: grátis
Quando: até 17 de novembro
Informações: tel. 011/573-7724

Texto Anterior: Jackson pode retornar ao Brasil em 97
Próximo Texto: A obsessão é da arte da ciência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.