São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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Fito Páez lança disco no Ibirapuera

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O cantor Fito Páez, a recente unanimidade argentina, faz show gratuito amanhã, às 11h, no Ibirapuera. A apresentação encerra o Mercosul Cultural e tem a participação do pianista Miguel Angel Estrella e a Camerata Bariloche.
A ocasião serve também para o lançamento de seu disco "Euforia" -uma coletânea ao vivo e unplugged de seus maiores sucessos, arranjados para orquestra.
Páez, 33, surgiu, junto com Charly García, numa Argentina que contava os mortos e desaparecidos do regime militar deposto.
Mais que isso, foram os pontas-de-lança da ruptura definitiva do conservadorismo harmônico do país, que não admitia a entrada do rock e tinha como maior ídolo musical alguém morto havia mais de 50 anos, Carlos Gardel.
Páez foi um dos responsáveis pela Argentina cabeluda, que a maioria dos brasileiros só conheceu nas transmissões dos jogos de futebol.
Hoje, com oito álbuns gravados, se dá ao luxo de fazer um show no teatro Colón, templo sagrado da música, em Buenos Aires.
Suas músicas já foram gravadas por Caetano e Djavan, produziu trabalhos de Mercedes Sosa e Liliana Herrero, foi ator de Fernando Solanas em "Sur" e "El Viaje" e finaliza roteiro para um longa com o amigo escritor Alan Pauls.
"O filme contará os últimos 20 anos da Argentina", disse, por telefone, de Buenos Aires.
*
Folha - O portenho (quem nasce em Buenos Aires) orgulha-se de ser melancólico. Você, que é de Rosário, alimenta uma personalidade sombria?
Fito Páez - No interior, o tempo é mais lento, mais rural, mais velho. Mas acho que todo argentino é melancólico. É um país formado por imigrantes, e o que o imigrante mais deseja é voltar a sua terra.
Folha - Há um traço romântico em suas letras. Mas, junto com o rock argentino, você surgiu durante a ditadura. Esse rock segue tradição no engajamento político?
Páez - Amor é muito poderoso, muito real. Tem amores que matam. Todos falam de amor, mas não sabem ao certo o que significa. Eu tinha entre 18 e 20 anos quando a ditadura começava a cair. Cheguei a compor músicas que falavam dos desaparecidos. Mas não penso que o rock que surgiu dessa época seja de protesto, mas de proposta. Era um rock lúcido, grave.
Folha - E como vocês conseguiram romper com o conservadorismo musical argentino?
Páez - A Argentina é muito conservadora por ser insegura. Encontra-se isso nas estruturas musicais. Mas, se você respeita a tradição, pode depois inovar. Meu papel é romper com os guetos.
Folha - O show no teatro Colón, que ainda exige que se use gravata, foi para isso?
Páez - Não foi um concerto de rock. A banda tinha uma formação clássica. Mas apareceu um público que nunca tinha colocado os pés lá. Foi engraçado. Na primeira fila, tinha uma garota com a camisa do Rosário Central, meu time.
Folha - Você tocava Tom Jobim na adolescência. Isso te marcou?
Páez - Profundamente. Meu pai escutava muito Jobim. Foi a primeira música que ouvi com atenção. É uma influência. Descubro a harmonia da minha música por meio da de Jobim.
Folha - Esse intercâmbio entre você, García, Caetano, Djavan e Paralamas é o Mercosul musical?
Páez - Não tem nada a ver com o Mercosul. É menos burocrático. É pessoal. E tem a intenção real de o brasileiro descobrir a América Latina e se integrar.
Folha - E sua nova carreira cinematográfica? Não é complicado dirigir um filme?
Páez - Complicadíssimo, mas engraçado. Abril ou maio devo começar a filmar.
Folha - Animado com o show no Ibirapuera?
Páez - Nossa, nunca fiz um show tão cedo. Espero que as pessoas acordem e compareçam.

Show: Fito Páez
Quando: amanhã, às 11h
Onde: parque Ibirapuera
Quanto: grátis

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