São Paulo, sábado, 28 de setembro de 1996
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OPÇÃO DE ALTO RISCO

De um lado, a elevada adesão à segunda greve geral em dois meses, ocorrida ontem e anteontem. De outro, um projeto governamental que, em face do desemprego que atinge 17,1% da força de trabalho, possibilita a redução de salários. A situação argentina parece caminhar para o dissenso, o agravamento de divergências políticas e sociais.
O caso argentino mostra que o câmbio fixo pode ter um alto custo social. Remete, ademais, a uma discussão de pelo menos seis décadas sobre como enfrentar o desemprego.
O governo Menem pretende que a redução dos custos internos reanime a economia, à medida que estimule as exportações. Mas a mesma deflação de salários e preços que daria maior competitividade ao país também poderia deprimir o consumo e, assim, desestimular a produção e os investimentos. Está na recessão, aliás, o provável motivo pelo qual o próprio empresariado não mostrou antipatia pelos protestos contra a política econômica.
O auge dessa discussão foi motivado pela Crise de 1929, e a publicação, por Keynes, da "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", em 1936. No início da década de 1930, a deflação terminou por acentuar, em vez de combater, a brutal recessão que então atingia os Estados Unidos. Em meio à depressão, os empresários viam a queda dos salários e dos preços como sinal de que as vendas cairiam ainda mais.
Os EUA são, porém, uma economia continental, já eram então a maior do globo, e dificilmente poderiam ter-se recuperado só com as exportações. A Argentina de hoje tem melhores chances. É uma economia menor, para a qual o impulso das vendas externas pode ter enorme relevância.
Ademais, a economia mundial está agora em crescimento. E isso aumenta o potencial das exportações argentinas. No início dos anos 30, o Ocidente encontrava-se em recessão.
Mesmo assim, aceitar uma deflação é sem dúvida uma opção de alto risco. Por mais que a camisa-de-força da paridade cambial restrinja as alternativas, é uma temeridade responder à insatisfação social com uma proposta de redução de salários. E o resultado econômico da medida ainda pode ser inverso ao pretendido.

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