São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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Dois Córregos usa poesia no ensino

DA REPORTAGEM LOCAL

Em pouco mais de um ano e com um investimento do próprio bolso de cerca de R$ 25 mil, o usineiro e poeta José Eduardo Mendes Camargo, 47, já formou, para trabalhar com poesia em sala de aula, 72 professores das dez escolas públicas de Dois Córregos (270 km a noroeste de São Paulo).
Hoje, cerca de 2.500 estudantes têm aulas de português "inspiradas" na poesia. Para uma cidade de 30 mil habitantes, esse número de crianças significa que quase toda população está de certa forma em contato com o trabalho poético.
"Eu gostaria de transformar Dois Córregos em um lugar onde as pessoas vêm para fazer turismo cultural", afirma o dono da Usina Santa Adelaide.
No último 7 de setembro, a "Usina de Sonhos" -como o projeto está sendo chamado- promoveu uma mostra da produção dos alunos, com painéis, declamações e coral de 250 crianças.
"A poesia pode facilitar a adaptação de Dois Córregos à transformação global que está ocorrendo. As crianças se sentem orgulhosas com seu trabalho e isso é uma forma de fortalecer a cidade", afirma o consultor da Unesco (órgão das Nações Unidades para educação e cultura), Kifle Selassle.
Etíope, radicado na França, ele esteve no Brasil para conhecer o trabalho e promete apoio da Unesco para a ampliação do projeto no país. "Fiquei emocionado."
Como usar
O trabalho feito para as comemorações de 7 de setembro é um bom exemplo de como se pode usar a poesia em aula.
Inicialmente, os professores reuniram fotografias novas e antigas de Dois Córregos. Fizeram um estudo, com os alunos, dessas fotografias -desde a composição visual da foto até as "histórias" que os retratos contam.
À medida que se faz esse trabalho, anota-se na lousa as palavras mais importantes, que melhor descrevem as fotos e a cidade.
Com essas palavras, os alunos montam frases poéticas, depois poesias. "Muitas vezes, eles ficam tão animados que, no dia seguinte, trazem suas próprias poesias sobre o tema trabalhado na aula", conta a professora Maria Regina Napolitano, uma das coordenadoras do projeto da Usina de Sonhos.
Mendes Camargo também está propiciando uma série de visitas de pessoas de fora da cidade para ver o trabalho das crianças -como o caso do consultor da Unesco-, o que acaba sendo uma forte motivação para o trabalho.
Além disso, o jornal local tem publicado algumas das melhores poesias. A publicação tem servido como incentivo adicional.

O jornalista Fernando Rossetti viajou a Dois Córregos a convite da Usina de Sonhos

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