São Paulo, segunda-feira, 30 de setembro de 1996
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Bruno Barreto exalta o despertar do desejo em "Atos de Amor"

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Joseph (Dennis Hopper) é um professor cinquentão de província que manca de uma perna desde que sofreu um acidente, na infância.
Mora com a mãe anciã e namora a diretora da escola (Amy Irving), viúva que vive com o filho.
Essa vida besta de província sofre um abalo com a chegada ao vilarejo de uma ninfeta diabolicamente sensual (Amy Locane), que não demora a seduzir Joseph. Isso é, em resumo, o que acontece em "Atos de Amor", de Bruno Barreto, que será exibido hoje em São Paulo.
As aparências enganam, mas não muito. Vista inicialmente como um fator de desordem, a forasteira precipita mudanças maduras na vida da comunidade, ensejando a formação de uma nova ordem, baseada em relações mais francas.
Dada a natureza singela de sua moral, -a de que devemos nos deixar levar pelos sentimentos, como sugere o título original, "Carried Away"-, o filme talvez ganhasse força se fosse estruturado como uma fábula para jovens ou como uma comédia romântica.
Não é o que acontece: Barreto optou por narrar um drama realista -e o faz de forma fluente, ainda que com pouco brilho.
Não se pode dizer que seja um mau filme. O ex-garoto prodígio do clã Barreto mostra que aperfeiçoou seu artesanato e que sabe contar uma história de modo competente.
O que se pode lamentar, isso sim, é a escassez de inspiração num filme que exalta justamente o poder do desejo e da imaginação.
Há poucas cenas que ficam na memória do espectador por sua originalidade ou força expressiva. A principal é aquela em que Amy Irving se desnuda no claro, diante da insistência de Joseph. É um momento de desconcertante verdade, só possível por se tratar de uma atriz plenamente consciente da dignidade e da beleza de seu corpo.
Outro momento marcante é a cena em que os pais da ninfeta vão tomar satisfação com Joseph. Depois de o pai da garota discorrer sobre a situação, a mãe alcoólatra, que até então permanecera calada, diz uma frase que revela de chofre seu completo alheamento.
As cenas de sexo sucumbem, no mais das vezes, ao erotismo standard de Hollywood.
O espectador fica esperando o tempo todo que Dennis Hopper tenha um estalo e parta para algum comportamento perverso e anti-social. Mas tudo, infelizmente, está sob controle.

Filme: Atos de Amor
Direção: Bruno Barreto
Elenco: Dennis Hopper, Amy Irving Quando: hoje, às 15h30 e 19h30
Onde: Espaço Unibanco (r. Augusta, 1.475/1.470, tel. 288-6780)

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