São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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Covas aumentará em 50% gastos com publicidade

SILVANA QUAGLIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador Mário Covas (PSDB) começa a segunda metade do seu mandato disposto a melhorar a imagem de seu governo. Para isso, aumentou a previsão de gastos com publicidade em geral de R$ 14 milhões em 96 para R$ 21 milhões em 97.
Mas, mais do que em campanhas direcionadas, Covas aposta no retorno dos programas de parceria com a iniciativa privada e nas privatizações. Reafirma ser contra a reeleição, mas diz que apoiará a idéia se o PSDB fechar questão.
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Folha - Pesquisa do Datafolha mostra que piorou a avaliação do seu governo.
Covas - É, mas eu ainda passo de ano (recebeu nota 5 dos entrevistados).
Folha - A que o sr. atribui esse desempenho?
Covas - Não sei, mas acho que o principal é ser fiel aos compromissos que você assumiu.
Folha - Mas não é importante para um governante ter o reconhecimento da população?
Covas - É importante. Mas eu ainda pretendo ficar dois anos. Há tempo para demonstrar que isso não foi nenhuma opção.
Folha - O sr. vai investir mais em publicidade.
Covas - Até o começo de 96, pagamos o que o governo anterior gastou. O que eu vou fazer é investir na informação.
Folha - Além de demitir funcionários, enxugar gastos, o sr. havia prometido uma reforma da estrutura administrativa.
Covas - Ainda estamos estudando modificações. E a reforma que estamos fazendo não é só demissão de pessoal e enxugamento das estruturas. Também é para melhorar a qualidade dos serviços.
Folha - Por que o sr. optou por cortes em vez e investimentos?
Covas - Porque as dívidas já existiam, e o déficit (diferença entre o que se arrecada e o que se gasta) era brutal. Segundo, porque para fazer déficit tem de ter como financiá-lo: ou não paga contas, ou obtém empréstimos.
Folha - E essas opções?
Covas - Quando eu assumi elas não existiam mais. As dívidas já estavam aí. Só para empreiteiros, o Estado devia R$ 3 bilhões.
Folha - O sr. renegociou o pagamento dessa dívida?
Covas - Não. Essa dívida vai para a CPA (Companhia Paulista de Ativos), que vai vender patrimônio do Estado para pagar fornecedores. Acabei com os atrasados no custeio da administração direta.
Folha - E as dívidas que o sr. negociou com o governo federal (cerca de R$ 40 bilhões)? O que falta para assinar o acordo?
Covas - Já foi aprovado pela Assembléia e pelo Senado. Agora faltam apenas medidas burocráticas.
Folha - Mas qual é a expectativa de data?
Covas - É preciso fazer a licitação para escolher a empresa que administrará o Banespa. Acho que até março, abril isso se resolve.
Folha - Essa negociação vai determinar um desembolso considerável. O Estado conseguirá pagar?
Covas - Já estamos pagando muito. Só de serviço da dívida (juros), pagamos cerca de R$ 1,6 bilhão em 96.
Folha - Vai sobrar dinheiro para investir?
Covas - O Orçamento não vai ficar tão mais fácil, sobretudo porque a parcela de precatórios (pagamento de dívidas decorrentes de sentenças judiciais) ainda aumenta. De qualquer maneira, conseguimos passar dois orçamentos equilibrados.
Folha - Com as contas em ordem, vai ser possível trabalhar com algum déficit para investir?
Covas - Pretendo seguir no mesmo regime de austeridade. Faremos aquilo que arrecadarmos.
Folha - O que a população pode esperar ver nestes dois anos?
Covas - A gente fixa na cabeça que a nota depende do volume de obras. Às vezes, é assim mesmo. As pessoas associam qualidade de vida ao número de obras que você é capaz de fazer. Às vezes, até um certo número de túneis acaba agravando o problema de trânsito, mas as pessoas podem te medir pelo número de túneis e não pelo congestionamento. Mas acho que será possível equacionar isso.
Folha - Como?
Covas - Se as empresas têm possibilidade de fazer, você tem por aí uma margem de manobra muito grande. O que se vai fazer em termos de saneamento básico não é visível, mas cujas influências podem ser medidas indiretamente com a coleta e tratamento do esgoto. Serão investidos US$ 700 milhões só na região metropolitana para garantir água para 15 milhões de pessoas. Talvez isso só seja notado por quem não tem água. O Metrô também retomou as obras nas três linhas.
Folha - O sr. acredita que isso terá impacto positivo?
Covas - Se a gente raciocina em termos de obra, sim. Por outro lado, estamos envolvidos num outro processo de busca de recursos. A privatização vai produzir recursos e pelo menos 10% têm de ser usados em áreas sociais, por determinação da Assembléia.
Folha - Não é pouco?
Covas - Gostaria de usar tudo nisso, mas quem paga as dívidas?
Folha - A arrecadação do Estado não dá conta de tudo?
Covas - Dá conta de uma porção de coisas, mas ainda falta. A concessão das estradas vai nos permitir ter estradas novas sem ser obrigado a ter recursos de outras fontes. Só o contrato da Anhanguera/Bandeirantes prevê pagamento de R$ 2 bilhões em 20 anos, 10% no primeiro ano. Isso dá para acabar a Carvalho Pinto, a Marechal Rondon.
Folha - Suas posições sempre pareceram estatizantes. Por que o sr. partiu para a privatização?
Covas - O Estado não tem mais como investir. Ideologicamente, hoje, ou se é social-democrata ou se é neoliberal. A diferença é a maneira de encarar o mercado. Para o social-democrata, deve existir um Estado para controlar aquilo que o mercado faz inadequadamente.
Folha - O governo federal deve, então, vender a Vale do Rio Doce?
Covas - A Vale não tem o privilégio do monopólio. Atua num dos mercados mais competitivos do mundo. Vendê-la é problema de opção. Se você acha que pode usar o dinheiro em outras áreas mais importantes... São Paulo não tem mais como investir. Para o governo federal, a Vale é uma empresa altamente produtiva. Não se pode dizer que tem de ser vendida porque não cumpre sua função.

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