São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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Redes começam a enfrentar dificuldades

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O pedido de concordata da rede de supermercados Tulha, no final de 1996, pode ser exemplo a ser seguido por outras médias empresas do setor ao longo de 1997, prevêem especialistas em varejo.
Com faturamento de R$ 160 milhões (em 1995), cerca de 20 lojas, 264 caixas e 21 mil metros quadrados de área de venda, o Tulha cresceu -a receita real aumentou 35% de 1994 para 1995-, mas não conseguiu escapar da insolvência.
"O mercado está supercompetitivo. Com a queda da inflação, o lucro financeiro desapareceu. Quem não souber trabalhar para obter lucro na operação vai desaparecer", diz Claudio Felisoni de Angelo, coordenador do Provar (Programa de Varejo) da USP.
Para ele, o grande problema dos supermercados hoje é a forma de gestão. "As estruturas são familiares e muitas vezes resistem às mudanças que precisam ser feitas para que as empresas se adaptem ao novo mercado brasileiro."
Felisoni diz que as margens de lucro dos supermercados nunca foram tão baixas. Se o lucro líquido chegar a 2% sobre o faturamento, continua ele, já é sinal que a empresa está operando muito bem. Antes do Plano Real, esse percentual girava em torno de 3%.
E mais: com a disputa tão acirrada pelo consumidor, afirma, os supermercadistas acabaram entrando numa guerra de promoções (cheques pré-datados), só que com estruturas para concessão de crédito ineficientes. "Não há dúvida que muitas empresas vão seguir o caminho do Tulha."
Wilson Tanaka, presidente do Sincovaga, que reúne os pequenos varejistas de gêneros alimentícios, diz que os supermercados, que não têm tradição para financiar a compra do cliente, estão fazendo de tudo para vender -aceitar, por exemplo, cheques pré-datados. "Só que muitas vezes estão se esquecendo de cobrir os custos."
Para ele, com margem de lucro reduzida, qualquer erro na administração faz desaparecer a rentabilidade e é isso o que está acontecendo com empresas tradicionais do setor de supermercados.
Nos cálculos do Sincovaga, diz Tanaka, o ano passado não foi bom para o setor. O faturamento em 1996 caiu cerca de 7% sobre o de 1995. Este ano, diz ele, já não começa com boas perspectivas.
"Este primeiro trimestre será ainda pior do que o último do ano passado. O consumidor vai entrar em 1997 mais endividado porque comprou mais para o Natal."
Para ele, além de o supermercadista ter que estar atento com a inadimplência e ser mais eficiente na política de compra e venda, tem também que oferecer mais serviços para os clientes.
Ao oferecer "algo mais" para o consumidor, continua ele, o supermercadista pode até ter um preço mais alto e, como consequência, obter um lucro maior.
"Para sobreviver, os supermercadistas vão ter que se preocupar muito mais com a eficiência na operação e com a qualidade de serviços. Não adianta só fazer promoção com cheque pré-datado."
Felisoni, do Provar, lembra que o supermercadista tem que estar atento também com o mix de produtos que oferece. Significa que se a margem é melhor no setor de bazar, então deve reforçar a venda dessa linha de produtos.

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