São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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O raro nunca se perde

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Tome-se o plano final de "Esta Mulher É Proibida" (Telecine, 2h10). Começa no rosto de Natalie Wood. Depois percebemos que o rosto está enquadrado por uma janela. Que esta janela é de um trem. Que o trem está movimento.
E depois, aos poucos, perdemos o rosto e perdemos Natalie, para ficarmos com o trem e, por fim, esse mesmo trem torna-se um ponto na paisagem.
Quem teria concebido esse plano prodigioso? Francis Coppola, co-roteirista, James Wong Howe, o fotógrafo, ou Sidney Pollack, o diretor. De todos, Pollack é o menor talento, o que não chega a ser vergonha, no caso.
Além disso, ele dirige essa adaptação de Tennessee Williams com tal brio que isso é um detalhe menor. O Pollack dos anos 60 era muito mais audaz e promissor do que o aborrecido cineasta de prestígio que se tornou com o tempo.
E nesta saga sulista, de amores transversos e destinos infelizes, tudo é forte. Natalie Wood e Robert Redford, o roteiro e a fotografia.
O plano final é o fecho de ouro, como se diz dos sonetos, de um trabalho notável. Hoje, essa proeza seria fácil, graças aos avanços tecnológicos (o steadycam, que estabiliza as imagens, por exemplo, não existia na época). Mas, pelo mesmo motivo, não teria a mesma força. A tensão que existe em cada instante desse plano não se repetiria hoje. O que é raro uma vez não deixa de ser raro nunca.
(IA)

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