São Paulo, sexta-feira, 3 de janeiro de 1997
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Tribo faz ritual de "body branding"

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA,

em San Francisco
Entre as várias tribos urbanas de San Francisco, Califórnia, a dos que se batizam no ritual de "body branding" ainda é reduzida a poucos mas ardorosos adeptos.
Guiados pelo veterano Fakir Musafar, desde 1975 eles queimam a pele com pedaços de metal incandescentes.
"A idéia de que lembra o ferro de marcar gado é um exagero", diz ele. "A pele humana não aguenta queimaduras grandes".
Fakir explica que o objetivo é criar cicatrizes em ritos de passagem que marcam novas fases e conquistas pessoais
"O pessoal ainda prefere a tatuagem, pois possibilita detalhes mais elaborados", explica Ralph Dietrich, 33, que deixou Seattle para participar de um workshop de fim-de-semana com Fakir Musafar. O mestre do "piercing" e "branding" experimenta com "formas de deformação e criação de cicatrizes" em seu corpo e nos de fãs e alunos desde os anos 50.
Para deixar claro que não é o ferro quente o responsável pelas piores dores e marcas na epiderme, Fakir vai logo abaixando o velho jeans desbotado. Além dos círculos de pele enrugada formando uma linha em suas coxas, há os "piercings" no pênis e escroto para chamar a atenção.
"Uma queimadura a ferro quente é superficial e a dor dura apenas o segundo em que o metal incandescente toca a pele", explica ele.
Segundo o mais famoso instrutor de "branding" e "piercing" da Costa Oeste dos Estados Unidos, ter um cone de incenso queimando a pele é uma experiência mística. "A temperatura vai subindo e a dor libera um monte de adrenalina no sangue", detalha ele. "A sensação de paz que se segue é maravilhosa".
Segundo Elise Knowles, 24, estudante de literatura na UC Berkeley que realizou com Fakir seu primeiro "branding" após três tatuagens, a sensação da queimadura é tão surpreendente que o nervo chega a emitir um falso sinal e ela sente como se o ferro estivesse gelado. "Me sinto conectada com fontes tribais", é sua explicação para a opção pelo "branding".
A contrário de tatuagens, Fakir explica que o "branding" não poderá jamais ser removido.
O casal de namorados Michael Joiner e Julie Nicholson, ambos com 20 anos, viajaram de avião de Houston, Texas, para ter a oportunidade de ser supervisionados por Fakir enquanto aplicavam ferros quentes um no outro. "É nosso ritual de união", explica ela, que saiu do curso com uma deusa da fertilidade estampada na barriga.

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