São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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A hora dos calouros

JANIO DE FREITAS

Quem observou que houve agora 43 substituições na Câmara dos Deputados, em razão das posses de novas administrações municipais, entenderá sem dificuldade por que o governo previu só para fevereiro as centenas de concessões ("por concorrência") de emissoras de rádio que poderiam estar concedidas há muito tempo.
As substituições não invalidam o compra-e-vende já realizado para a aprovação do projeto reeleitoral, mas inutilizam, sim, as contagens de prós e contras que tinham pretensões a alguma precisão. Como não havia ainda, ao que tudo indicava, votos suficientes para a aprovação, e menos ainda para a sempre necessária margem de segurança, é nos recém-chegados que Fernando Henrique Cardoso e seus gerentes tendem a depositar a esperança de adesões solucionadoras, que antes muita gente dizia estar na divisão comercializada do contingente malufista.
À primeira vista, o panorama das substituições não acrescenta dificuldades para os planos continuístas. A bancada de oposição não se fortaleceu. E os integrantes dos partidos governistas, mesmo que sejam em parte contrários à reeleição de Fernando Henrique, só em casos excepcionais são pessoas de princípio, menos sujeitas à flexibilidade diante de uma boa oferta.
Contra censo
Graças à menção aqui, semana passada, à persistência com que o IBGE me exclui da sua contagem da população brasileira, fui brindado anteontem com a "coincidência" de uma "fiscalização de rotina", para conferir '•s dados nas (minhas) respostas ao questionário do censo". Minhas, não podiam ser. Mas o papel garatujado a lápis tinha parte do meu nome e, se bem que não me concedesse escolaridade além de um qualquer 4' ano, aliviou minha idade de maneira admirável.
Nem olhei outros dados. Revigorado pelo rejuvenescimento, percebi a armadilha: se caísse no pretexto da correção pela "fiscalização de rotina" do censo, daria os dados precisos com que o IBGE, depois, poderia fazer a falsa demonstração de que, contrariamente ao publicado, teria havido entrevista que não houve.
Agora sei que há no IBGE algo tão lamentável quanto o censo: os truques.
Noite nossa
O foguetório de Copacabana ficou, outra vez, como a melhor celebração coletiva do novo ano. Ou do fim do ano velho. Mas o réveillon que fez, mesmo, a passagem de um ano para outro, foi o dos pais que atravessaram a noite numa fila em frente a uma escola pública em Campinas, para tentar no dia 2 matricular os seus filhos.
Aquela, sim, foi a Noite de Ano autenticamente brasileira.

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