São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Problema atinge adolescentes em todo o Estado

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PEDREIRAS (MA)

O abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes está presente em todos os municípios do Maranhão, segundo entidades governamentais e não-governamentais ligadas à proteção de menores.
O descontrole da situação levou um grupo de 25 entidades, lideradas pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a organizar a maior campanha de prevenção e combate à prostituição infantil já realizada no Estado.
A falta de emprego transformou a prostituição de crianças e adolescentes na principal e, às vezes, única fonte de renda de famílias no interior maranhense.
"Outros Estados chamam mais a atenção por causa do turismo sexual, mas a situação do Maranhão é muito grave. A exploração acontece com muita frequência e é notória", diz Eliana Almeida, coordenadora de projetos do Unicef no Estado.
O abrigo a vítimas de exploração sexual da Funac (Fundação da Criança e do Adolescente, órgão do governo estadual) recebe em média 15 meninas por mês em São Luís, a maioria vindas do interior.
"Muitas saem de suas cidades com promessa de empregos como empregadas domésticas ou modelos e acabam levadas para casas de prostituição. Outras são prostituídas pela própria família", afirma a coordenadora de programas de proteção à criança da Funac, Benigna Almeida, 34.
O Ministério Público faz blitz em prostíbulos denunciados por manter adolescentes, mas a punição é leve, e as casas acabam sempre reabrindo.
Ruas centrais
Em municípios do interior como Bacabal, Pedreiras, Santa Luzia, Imperatriz e Açailândia a prostituição infantil não ocorre mais às escondidas, mas em ruas centrais.
Quando não trabalham em prostíbulos, as adolescentes fazem ponto em beira de estradas ou levam seus "clientes" para casas.
"É bom rodar por aí, porque você nunca fica conhecida demais em nenhum lugar", disse à Agência Folha S.A.V., 15 anos, antes de ser levada por um caminhoneiro na rodovia BR-316, em Bacabal (250 km ao sul de São Luís).
S.A.V. disse que em sua casa, em Presidente Dutra (MA), passava fome e que aprendeu a fazer programas na beira da estrada com amigas. Donos de prostíbulos dizem que preferem adolescentes porque elas atraem mais clientes.
A campanha liderada pelo Unicef vai fazer, a partir de janeiro, um mapeamento da prostituição infantil no Maranhão.
"Vamos mudar a maneira de tratar o assunto, pois as batidas em prostíbulos, como eram feitas, só fazem do menor mais uma vítima", afirma Rogenir Almeida Santos, 26, uma das coordenadoras da campanha.
"Queremos educar, conscientizar as famílias e crianças, com a participação das autoridades."

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