São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Escola alfabetiza prostitutas no Maranhão

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PEDREIRAS (MA)

Uma escola de Pedreiras (MA) está alfabetizando as prostitutas e filhos de prostitutas e mães solteiras da cidade. Das 15 professoras e funcionários que trabalham na escola, 8 são ou foram prostitutas.
O Cresmam (Centro de Recuperação Santa Maria Madalena) foi fundado em 1963 por um padre, Luiz Mário Lula, que queria alfabetizar e ensinar atividades profissionalizantes às prostitutas.
"O problema da prostituição cresceu tanto que tivemos de ampliar a escola e hoje atendemos também as crianças", diz a diretora da escola, Benedita Leite, 56, que foi uma das fundadoras.
O Cresmam, hoje mantido pela prefeitura com o apoio da Comissão Pastoral da Mulher, tem 75 crianças de 7 a 14 anos nas turmas de alfabetização (1ª a 3ª séries), 98 crianças de 4 a 6 anos na pré-alfabetização, 15 alunas na turma de alfabetização de mulheres, 18 ex-prostitutas no grupo de idosas e 10 na turma de corte e costura e trabalhos manuais.
"É muito difícil organizar tanta gente. A maioria chega aqui sem nenhuma educação. Essas pessoas vivem na promiscuidade dentro de suas casas", diz a diretora, que há um mês, flagrou um menino de seis anos e uma menina de cinco simulando o ato sexual em uma sala abandonada da escola.
Algumas das professoras ainda são prostitutas na ativa. "Tentamos convencê-las a parar de fazer programas, mas o dinheiro fala mais forte", afirma Benedita.
A média dos salários na escola é de R$ 60,00 mensais, e os atrasos são constantes.
"Estudo magistério e gosto de dar aulas, mas os salários estão atrasados desde agosto", diz a professora A.M.S., 18, que à noite faz programas em casas particulares.
O município de Pedreiras (que fica a 277 km ao sul de São Luís) é um dos principais retratos do problema da prostituição infantil no Maranhão.
As ruas e praças do centro da cidade são ocupadas às tardes e noites por dezenas de adolescentes em busca de programas. Elas cobram a partir de R$ 5,00.
"Há meninas de 12, 13 anos, que se oferecem aqui. Elas pedem dinheiro, dizem que esperam você aonde quiser e se deixam levar para qualquer lugar de carro", diz o comerciante Paulo Monteiro, 45.
A falta de emprego é apontada, pela Comissão Pastoral da Mulher, como uma explicação para o grande número de menores que vivem na prostituição.
Entre os pais de crianças de até três anos de idade, 63% são analfabetos. Os números são do último Censo do IBGE.
"Muitas meninas se prostituem incentivadas pelos próprios pais", diz Maria Oliveira, da Pastoral da Mulher.
"Bregas"
O bairro do Campo, hoje pertencente a Trizidela do Vale (um recém-emancipado bairro de Pedreiras), concentra os "bregas", como são conhecidos na região os prostíbulos. Em uma só rua há 15 cabarés, quase todos com adolescentes trabalhando.
"Algumas são trazidas pela própria mãe", diz o dono de cabaré Benê Bastos, 43.
"Minha mãe não tinha condições de me criar e me deixou com uma tia (a dona de um cabaré)", diz M.G., 14 anos, prostituta desde os 12 no bairro do Diogo, outro ponto de concentração de prostíbulos de Pedreiras.
As polícias civil e militar e a Prefeitura de Pedreiras não têm programas de combate e prevenção à prostituição infantil.
"O problema existe, não negamos. É um problema nacional. Mas a última denúncia formal que recebemos foi no ano passado", afirma o promotor de Justiça da Infância e Juventude de Pedreiras, Simeão Pereira.
Em 95, a Polícia Militar e o Ministério Público autuaram a dona de cabaré conhecida por "Maria Gorda" por manter dez adolescentes em sua casa.
Depois de passar duas semanas na prisão, porém, ela voltou a atuar na rua do Campo.

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