São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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Balança vira termômetro para saúde da economia

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A balança comercial tomou o lugar do nível de preços como obsessão dos analistas da economia. Ao lado da questão fiscal, o foco das atenções em 97 serão os resultados das trocas com o exterior.
O ano passado deve ter fechado com déficit comercial recorde, por volta de US$ 5 bilhões, segundo expectativas do mercado.
As exportações até que avançaram um pouco, para uns US$ 48 bilhões, contra US$ 46,5 bilhões em 95. Porém num ritmo tímido para acompanhar as importações, que devem ter beirado os US$ 53 bilhões em 96, ou 6,8% sobre 95.
Para este ano a certeza é de que haverá novo déficit. A divergência fica por conta dos números, entre o repeteco dos US$ 5 bilhões esperados e algo como US$ 8 bilhões.
"É variável difícil de ser prevista", diz o economista Luis Eduardo Assis, diretor do Citibank, lembrando que no final de 95 falou-se em superávit de US$ 1 bilhão.
Tarifas mais baixas, preço e qualidade dos importados e até o efeito-novidade levaram as importações a números surpreendentes.
Dilema do câmbio
Nos anos 70 e 80, déficits comerciais dessa ordem foram enfrentados com máxis ou mididesvalorizações da taxa de câmbio, mas, agora, poucos são os analistas que apostam numa alternativa radical.
Na opinião de Flavio Nolasco, da MA Consultores Econômicos, desvalorizar o real em 10% ou 15% seria um equívoco. Um dos motivos: endividamento da economia em moeda estrangeira.
Com enorme passivo dolarizado, a consequência da um ajuste mais forte no câmbio seria recessão, a exemplo do que aconteceu no México. As exportações poderiam até crescer, mas porque o mercado interno se retrairia.
E os resultados econômicos do ajuste no câmbio são dúbios, afirma Nolasco. Seriam punidas empresas que já fizeram o ajuste e para as quais a defasagem cambial não é mais preocupação.
Acelerar um pouco as desvalorizações no sistema atual de bandas também teria resultados incertos. Poderiam ser neutralizadas pela inflação dos EUA (2,5% a 3%) e inibir a queda gradual dos juros internos, prejudicando o ajuste fiscal (redução do custo da dívida).
Assim, as perspectivas são de que o governo mantenha em 97 a estratégia de reduzir o "custo Brasil" e estimular as exportações.
É certo que a balança comercial terá novo déficit em 97, mas financiável sem grandes problemas, concordam Nolasco e Assis.
As reservas externas são elevadas -em torno de US$ 60 bilhões- e há maior credibilidade do Brasil no exterior, aponta Nolasco.
Assis admite que a balança comercial será o vetor das expectativas em 97, e o déficit poderá superar o de 96. Mas as condições de liquidez internacional favorecem seu financiamento, diz ele.
Nos EUA há grande demanda por papéis de países latino-americanos. Investimentos em Bolsa também podem atrair capitais, mesmo porque surgem incertezas nos países asiáticos e da Europa oriental. "Pode ser o ano da América Latina", arrisca Assis.
Na opinião de Nolasco, 97 poderá ser o ano da transição para um crescimento econômico mais robusto em 98 e 99, desde que se avance na questão fiscal e na redução do "custo Brasil".
"Se o governo não fizer nada, os modelos de 98 e 99 serão limitados", prevê Nolasco.
Apesar das incertezas quanto à balança comercial, o mercado de câmbio anda calmo -o ágio do "black" não é mais indicador.
Para Sidnei Nehme, da corretora NGO, "já ficou claro que o governo não vai mexer no câmbio". As correções devem se manter em 0,50% ou 0,60% ao mês.
Em dezembro, cresceu o volume de contratos de antecipação de câmbio para exportação, não só porque as empresas precisaram fazer caixa, mas também, diz Nehme, porque houve certa cautela em outubro e novembro com a boataria sobre mudanças no câmbio.

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