São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entenda a tese do linguista

DO "LIBÉRATION"

Quando uma língua nasce ela segue as regras da gramática universal inata, segundo as teses do psicolinguista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) Steven Pinker.
"A linguagem é para o homem a mesma coisa que a capacidade de fazer a teia é para a aranha. Uma pulsão que se exprime, quaisquer que sejam os obstáculos e as circunstâncias", afirma o pesquisador.
Para sustentar sua tese ele descreve o caso do crioulo (língua nativa de formada a partir da mistura e da reelaboração de outros sistemas linguísticos) e da linguagem de sinais utilizadas pelos surdos.

Crioulo
Quando pessoas que falam línguas diferentes precisam se comunicar umas com as outras elas inventam, aos pedaços, um jargão (língua alterada ou corrompida, conjunto de partes não coordenadas pela mesma estrutura), conhecido na linguística como "pidgin" (em inglês, jargão resultante da mistura de inglês e chinês).
Esse foi o caso da população das Antilhas Francesas, do Caribe inglês e do Havaí. Mas as crianças que nascem nesse ambiente "pidgin" o transformam, no espaço de uma geração, em algo de completamente diferente. Ao aplicarem sobre o "pidgin" as regras da gramática universal, elas fazem com que surja um crioulo.
Ao contrário do "pidgin", o crioulo tem todas as características de uma verdadeira língua. "No crioulo é possível ver claramente todas as tendências naturais da espécie humana. Isso é interessante cientificamente porque as contribuições dos filhos e dos pais são separadas.

Surdos
Originalmente inventadas por educadores, as linguagens de sinais são espontaneamente transformadas pelas crianças que a utilizam. Cada comunidade tem sua língua de signos. Aquela utilizada nos Estados Unidos não se assemelha nem ao inglês falado nem à linguagem de sinais britânica. Seu sistema de concordância e de conjugação se aproxima mais do navajo (grupo indígena da América do Norte) e do banto (africano).
O exemplo mais recente vem da Nicarágua. Até 1979, os surdos nicaraguenses viviam isolados, sem linguagem de sinais. Com o governo sandinista, as primeiras escolas para crianças surdas foram criadas e uma língua de sinais foi inventada pelos educadores.
"Essa primeira linguagem era, de modo geral, um 'pidgin', que é falado hoje em dia pelos mais velhos. Mas as crianças que chegaram à escola com quatro anos têm uma linguagem diferente: mais fluida, mais compacta, mais expressiva". Os linguistas que a estudaram encontraram nessa nova linguagem dos surdos reelaborada pelas crianças instrumentos gramaticais que não existiam na linguagem inventada pelos educadores. É um crioulo, criado pelas crianças.

Texto Anterior: Linguagem é inata e instintiva como o sexo e a fome, diz pesquisador
Próximo Texto: Maillol se despede de SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.