São Paulo, domingo, 5 de janeiro de 1997
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NEGAÇÃO CEGA

A transferência de poder de um governante para outro, depois de um período de gestão definido por lei, é um princípio salutar adotado em qualquer democracia do mundo. Mas muitas vezes o que poderia ser uma renovação de idéias ou uma reunião de novos e antigos projetos é transformado, por interesses políticos menores, em uma simples negação de todo o trabalho que foi realizado pelo governo anterior.
O aparecimento dos agentes comunitários de saúde, como apoio para equipes de médicos e enfermeiros, tem se mostrado uma das mais positivas iniciativas adotadas na área nas últimas décadas. Reunidos no PSF (Programa de Saúde Familiar), criado em 1994, eles são em parte responsáveis, segundo o Ministério da Saúde, por uma queda de pelo menos 20% no índice de mortalidade infantil em municípios do Nordeste.
Pois a mera eleição de alguns novos prefeitos foi o suficiente para desmontar as equipes de médicos e enfermeiros em diversos municípios cearenses, causando a paralisação do programa. Desgostosos pelo fato de o projeto ter sido estimulado por seus antecessores, novos administradores, que antes estavam na oposição, trataram de interromper o trabalho do PSF, cujos resultados até então eram bastante animadores.
O número de agentes em atividade, que dependem das equipes médicas para o efetivo sucesso do seu trabalho, já chega hoje a 44,3 mil, beneficiando 6 milhões de famílias. Num modesto conceito de atuação, eles são recrutados na própria comunidade e precisam apenas saber ler e escrever e ter 18 anos completos. Seu trabalho consiste basicamente em fazer um levantamento do estado de saúde dos moradores, principalmente bebês e gestantes.
Autoridades da área da saúde avaliam que os novos prefeitos do Ceará terão de retomar os programas devido à pressão da comunidade. Que realmente o façam e desestimulem a cultura, existente em boa parte do país, segundo a qual toda realização de adversários políticos merece um repúdio cego e imediato.

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