São Paulo, segunda-feira, 6 de janeiro de 1997
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Seguros: 1997 promete

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Comparado a 1994 e 1995, 1996 não foi um grande ano para a atividade seguradora. Ao contrário dos dois últimos exercícios, em 1996 o mercado perdeu dinheiro com o próprio negócio e, mais uma vez, teve de se socorrer nos resultados patrimoniais para garantir o lucro.
Mas, se pelo lado da remuneração dos acionistas o resultado não foi o melhor, em termos de mudanças estruturais 1996 vai ficar na história econômica do país como o ano em que a atividade seguradora brasileira mudou de patamar, deixando de ser um negócio fechado para entrar no mundo.
Isso se deu com a abertura de suas portas para o capital estrangeiro, que se processou de forma insofismável em três grandes operações: a Vera Cruz Seguradora passou a pertencer ao grupo espanhol Mapfre, a Paulista Seguros foi vendida para a norte-americana Liberty Mutual e a Concórdia foi integralmente assumida pelas japonesas Mitsui e Kioey.
Além dessas transferências de controle, merecem destaque a associação da Icatu com a norte-americana ITT e a revisão das parcerias entre a Bradesco Seguros e suas sócias, as gigantescas Allianz (alemã) e Prudential (norte-americana).
Mas as mudanças não param por aí. O Congresso Nacional, mais uma vez mostrando que nem sempre sabe o que vota, votou o fim do monopólio do resseguro, que não tinha monopólio, e o condicionou a uma outra votação, essa sim para valer, que vai regulamentar o artigo 192 da Constituição.
Se, pelo lado jurídico, essa votação não teve nenhum efeito prático, pelos lados psicológico e político ela teve um impacto sério sobre as perspectivas para o setor, que desde então vem se preparando para negociar os seus excedentes num mercado livre e aberto para quem tiver competência.
Curiosamente, as seguradoras que saíram na frente para negociar os seus resseguros com as grandes resseguradoras internacionais foram justamente as maiores, que, teoricamente, são as que precisam menos desse tipo de proteção.
Por seu lado, o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil), que seria o grande prejudicado com o final do monopólio de fato que ele ainda exerce, também aproveitou a chance para se preparar para o século 21 e, depois de uma reengenharia profunda, sai de cara nova, com a engrenagem azeitada, quase pronto para competir dentro do novo cenário, no qual leva a enorme vantagem de conhecer o mercado e de ter um dos maiores limites de aceitação automática de resseguro de incêndio do mundo.
Como se não bastasse, a atividade seguradora internacional atravessa um período de crescimento quase nulo nos principais países do Primeiro Mundo, e as projeções para esses mercados não apresentam nenhuma perspectiva de mudança de cenário.
Enquanto isso, no Brasil, em apenas dois anos, de 1994 a 1996, o setor de seguros viu o seu faturamento anual saltar de humildes US$ 5 bilhões para já não tão pequenos US$ 15 bilhões, com tendência firme de crescimento, podendo chegar por volta da virada do século à respeitável soma de US$ 35 bilhões anuais.
É número para abrir o apetite de qualquer empresa com dinheiro e que esteja vendo suas receitas se estagnarem. Assim, a chegada de outras companhias de seguros estrangeiras deve ser vista como uma realidade que acontecerá rapidamente, tanto por meio da criação de novas seguradoras como por meio de parcerias com grupos nacionais ou pela compra pura e simples do controle acionário de empresas já existentes.
Há ainda, do lado das seguradoras, um outro dado que não vem tendo a devida atenção, mas que é da maior importância para o futuro do mercado de seguros brasileiro: a entrada do Banco do Brasil no setor. E o Banco do Brasil, que até alguns anos atrás vinha tateando como quem não queria nada com a coisa, entrou para valer, criando companhias específicas para atuar em todos os campos da atividade, de seguro de automóvel à previdência privada.
Apenas para quantificar o que isso significa, se o Banco do Brasil for completamente incompetente para vender seguros -o que eu duvido-, ele venderá, por dia, no mínimo um seguro para cada duas agências.
Como o Banco do Brasil tem mais de 4.000 agências, isso quer dizer que ele estará, já em 1997, comercializando mais de 2.000 apólices, o que o transformará num dos maiores seguradores do país.
Para finalizar o quadro, ao longo dos dois últimos anos a comercialização de seguros mudou muito. A melhor prova dessa mudança é que nenhuma corretora de seguros cresceu no ritmo do mercado.
Assim, ou os corretores de seguros esquecem os antigos discursos e investem em profissionalização ou a maioria deles será engolida em pouco tempo -e, o que é pior, não conseguirá nem sequer ser agente das seguradoras, que já estão montando os seus quadros de comercialização e selecionando os seus parceiros.

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