São Paulo, segunda-feira, 6 de janeiro de 1997
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Mário Martins

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Há livros que a gente não precisa ler para detestar. E outros que a gente também não precisa ler para gostar. Compromissos de final de ano e uma falta de tempo generalizada impediram-me de ler, até agora, o livro de Franklin Martins sobre seu pai, Mário. Admirei e continuo admirando esse homem extraordinário, que prefiro classificar mesmo de "homem" e não apenas de jornalista e político.
Conheci-o pessoalmente como vereador pela UDN, na antiga Câmara do Distrito Federal, embora já o admirasse como jornalista veemente e sempre na oposição. Era a grande referência moral do plenário, nesse tempo a UDN ainda não se transformara naquele covil tenebroso que abrigava os reacionários mais truculentos do país.
Mário passou para a Câmara Federal, depois para o Senado -quando foi cassado pelo regime militar. Nunca perdeu o sentido básico de sua vida e de atuação no cenário nacional: o sentimento de honra, de honestidade, de paixão pela liberdade e de coerência com a probidade.
Acredito que nunca houve, entre nós, vocação mais oposicionista e lúcida do que a dele. Parece que nunca se sentiria confortável num esquema de poder que o tornaria cúmplice dos erros e práticas que ele sempre combatia.
Quando fui processado pelo ministro da Guerra, Artur da Costa e Silva, e compareci ao tribunal que me condenaria, foi dele a única solidariedade pública que recebi. Como jornalista -ainda não éramos amigos-, ele expressou sua indignação contra a força do regime que me escolhera para, através do processo e da prisão, intimidar e calar os poucos jornalistas que, como ele, se recusavam a ficar do lado dos vencedores.
Ele reclamou altivamente da forma como fui tratado na Justiça. Mais tarde trabalharíamos juntos em "Manchete". E, em nossa convivência profissional, raras vezes conheci um homem tão educado, tão gentil, tão grande em sua generosidade.

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