São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

1.200 famílias invadem cinco fazendas no Pontal

Jungmann afirma que não negociará com quem fizer invasões

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO; DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

EDMILSON ZANETTI
Pelo menos 1.200 famílias ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem de madrugada cinco fazendas em três municípios na região do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado de São Paulo.
Não houve incidentes, segundo a direção do movimento e a Polícia Militar, que acompanhou a movimentação à distância.
Em Recife, o ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann, chamou de "problema político" as invasões no Pontal.
"Não há por que invadir", disse o ministro. "O Pontal tem solução encaminhada, é uma questão de tempo assentar as famílias."
Em Euclides da Cunha, 700 famílias entraram às 4h nas fazendas Santa Maria, de 400 alqueires, Santa Terezinha, de 1.100 alqueires, e Porto Letícia, de 400 alqueires.
Em Marabá Paulista (660 km a oeste de São Paulo), 300 famílias invadiram a fazenda São Luiz, de 1.200 alqueires, e, em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo), 200 famílias entraram em gleba da fazenda Ribeirão Bonito (2.400 alqueires). Nesta fazenda, já havia sem-terra acampados.
As invasões foram as primeiras feitas pelo MST neste ano no Pontal. Em dezembro, a direção do movimento havia anunciado uma série de ações para 1997.
O coordenador do MST no Pontal, José Rainha Jr., 36, disse que as invasões são uma forma de pressionar o governo a retomar as negociações para desapropriações de terras consideradas improdutivas.
Jungmann
Jungmann descarta essa hipótese. "Não dá para me relacionar, sentar na mesa, com quem está invadindo", afirmou o ministro.
Tânia Andrade, coordenadora-geral do Instituto de Terras do Estado de São Paulo, órgão subordinado à Secretaria da Justiça, negou que as negociações para assentamentos tenham parado.
"O Estado se pauta pela legalidade, por isso nosso ritmo é mais lento", afirmou.
Em carta enviada ontem a Jungmann, Rainha afirma que as invasões são "uma resposta dos trabalhadores contra a atitude e as ações armadas dos latifundiários, que querem impedir os acordos que estão em andamento".
O presidente da UDR em Presidente Prudente, Roosevelt Roque dos Santos, 49, disse que "o que está acontecendo no Brasil é uma desobediência civil". Afirmou ter orientado, por telefone, os fazendeiros a entrarem com pedido de reintegração de posse.

Colaborou Fábio Guibu, da Agência Folha, em Recife

Texto Anterior: Elétricas de SP serão vendidas até outubro
Próximo Texto: Hoje há questões de geografia e biologia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.