São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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BM&F: 11 anos de trabalho, luta e progresso

MANOEL FRANCISCO PIRES DA COSTA

A BM&F viveu, com os brasileiros, o drama dos cinco planos econômicos que não deram certo nos três últimos governos. São 11 anos de vida, cinco dos quais tumultuosos e incertos, nos quais não se sabia o que iria acontecer no dia de amanhã.
Mas, apesar de esses planos econômicos terem violentado as regras do mercado e os contratos em vigor, de terem chegado ao extremo jamais imaginado do bloqueio de contas, a BM&F conseguiu superar os desafios, graças à alta qualidade da sua administração e ao alto grau de profissionalização do mercado financeiro nacional.
Foram anos de frustração e angústia, sem perder o ânimo e a certeza de alcançar os objetivos maiores.
A partir de 1992, a BM&F já estava vivendo uma fase diferente. Uma fase difícil, ainda, de intensa expectativa, que levou à deposição do presidente, porém economicamente menos incerta.
Tivemos a sorte de contar com uma equipe técnica liderada pelo então ministro da Economia Marcílio Marques Moreira, que nos deu a garantia, a certeza de que não mais se repetiriam as violências incríveis do passado. Haveria mudanças, sim, mas os contratos seriam respeitados.
Apesar do turbilhão político provocado pela queda do presidente e pelas cassações no Congresso, consolidou-se a idéia de que a economia brasileira precisava de regras estáveis. E, mesmo no período inconstante do governo Itamar, as regras básicas do mercado foram mantidas.
Com o Plano Real, veio o controle da inflação e a estabilidade. Isso foi importante para a população, que, embora ainda assustada, ousou acreditar num plano bem concebido, com metas entendidas pela sociedade, que hoje exige o seu cumprimento -objetivo que vem sendo praticado pelo governo.
Isso foi importante para o mercado financeiro, e em especial a BM&F, permitindo que ela cumprisse o seu papel em função das características próprias de suas operações. Com a estabilidade econômica e horizontes mais claros, foi possível aumentar os prazos dos contratos.
Mais ainda, viabilizou-se a execução de contratos agropecuários, hoje uma realidade. Dessa forma, a BM&F está podendo cumprir o seu grande objetivo social de oferecer proteção aos preços de um setor duramente castigado.
Não hesito em dividir os 11 anos de vida da BM&F em duas fases: antes e depois do Plano Real. Somente a competência técnica do seu pessoal permitiu-lhe superar sem traumas a primeira fase.
Apesar da turbulência, o sistema de "clearing", de liquidação de administração das garantias depositadas e dos riscos do sistema, foi habilmente gerido.
O reconhecimento internacional do seu sistema, inclusive, aconteceu há poucos dias, com a distinção, para a BM&F, do ISO 9002, que é o referendo indiscutível de qualidade.
Na segunda fase, o Plano Real trouxe a estabilização e o restabelecimento da confiança que permitiram à BM&F, já preparada para um grande salto, de um lado, crescer com a volta da economia à normalidade e, de outro, contribuir, de forma exemplar, para o êxito do próprio programa.
Aqui, os números impressionam. Em 1991, o volume de negócios na BM&F era de apenas US$ 91 bilhões; em 1995, esse total evoluiu para US$ 3 trilhões.
Pois bem: estamos terminando o ano de 1996 com um volume financeiro de negócios estimado em US$ 4,5 trilhões.
Em apenas quatro anos, passamos a ser a quarta maior Bolsa de futuros do mundo, em número de contratos transacionados. Fruto de regras firmes, competência, alto nível do conselho de administração e estabilidade econômica.
Nesse período de cinco anos, o patrimônio da BM&F também cresceu. Ele passou de US$ 31 milhões em 1991 para US$ 355 milhões no ano passado. Isso sem contar os US$ 120 milhões destinados ao suporte financeiro às corretoras, para investimentos tecnológicos.
Tudo se realizou? Não. Apesar de quarta Bolsa do mundo, ainda somos uma Bolsa regional. A BM&F não está internacionalizada.
Essa é a grande meta, que vai depender, naturalmente, de uma decisão política do governo. Que já compreendeu a importância da internacionalização -sob o nosso ponto de vista-, inclusive, para consolidar o Mercosul. Aliás, a BM&F deverá ser o centro de liquidações das operações agrícolas e ativos financeiros do Cone Sul.
Temos batalhado nessa direção. Mas, nos quase três anos de contatos intensos com o governo, sempre tivemos e continuamos tendo um respeito absoluto às prioridades do país: consolidar o regime democrático, derrotar a inflação e promover as reformas básicas. Reconhecemos as dificuldades do governo e jamais negamos o nosso apoio a um programa que nos tirou do desastre da hiperinflação.
As prioridades estão sendo alcançadas. As reformas caminham, e nada mais impede que a BM&F cumpra a sua função social prioritária, que é, justamente, fortalecer a agroindústria brasileira. Embora isso dependa, basicamente, da internacionalização -que dará maior liquidez aos mercados.
Nesses cinco anos de busca de estabilização e crescimento, a BM&F viveu períodos conturbados. Venceu, da mesma forma que o Plano Real está até agora vencendo. E vai continuar colaborando para o êxito de um programa econômico que está dando certo e não pode parar no caminho certo.

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