São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
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Dolores Duran

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Mais precoce que Candeia foi a cantora carioca Dolores Duran (1930-59), morta aos 29 anos (de ataque cardíaco, provavelmente por causa da overdose de barbitúricos) e uma das primeiras mulheres no Brasil a se aventurar na composição de canções.
O CD duplo "Dolores Duran", lançado em vinil em 79, recorre ao duvidoso expediente de reconstituir, com orquestra e coro, as gravações originais da cantora.
Só sua voz é autêntica -todo o resto é maquiagem. O resultado, embora se busque a fidelidade às matrizes, é de inevitável pasteurização, especialmente no que se refere aos abomináveis corais.
É, ainda assim, oportunidade única para redescobrir Dolores. No passeio por 23 faixas gravadas entre 55 e 58, percebe-se que ela foi mais que a compositora pioneira que o senso comum permitiu chegar à memória dos 90.
O CD revela várias faces da Dolores intérprete, da tradição da cultura de morro de Geraldo Pereira ("Escurinho") e Noel Rosa ("Conversa de Botequim", que mostra que como cantora Dolores não era nenhuma Araci de Almeida) às brejeirices de Dunga e Jair Amorim ("Conceição", propriedade absoluta de Cauby Peixoto) e Billy Blanco (nas impagáveis "Pano Legal" e "Estatuto de Boite").
Dolores morreu quando a bossa nova nascia e fez história por ser das primeiras a gravar e co-assinar canções de Tom Jobim -"Estrada do Sol", "Por Causa de Você", "Se É por Falta de Adeus".
Passou à posteridade -não há como negar- como autora de clássicos da fossa pré-bossa, que influenciariam toda uma nova vertente, de Dick Farney a João Gilberto, de Maysa a Nara Leão.
E aqui se encontra mesmo o melhor (e menor) filão do CD, o da compositora de clássicos como "Solidão" e "A Noite do Meu Bem". Para maiores detalhes, continue esperando. Ou consulte "A Noite do Meu Bem - As Canções de Dolores Duran" (94), de Nana Caymmi.
(PAS)

Disco: Dolores Duran
Lançamento: ABW
Quanto: R$ 36, em média

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