São Paulo, terça-feira, 7 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Notícia da paróquia

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O novo prefeito do Rio anunciou que vai mexer no acesso do túnel Rebouças, aqui do lado da Lagoa onde vivo e espio a vida. Perdoem o assunto paroquial, mas a solução prometida é bem típica dos nossos governantes.
O problema do trânsito nas duas avenidas que contornam a enorme poça (a Epitácio Pessoa e a Borges de Medeiros) não está no acesso, mas no próprio túnel, que apesar de duplicado (duas galerias, uma vindo, outra indo) tem pistas para apenas três carros.
Não adianta fazer acessos com capacidade para quatro ou mil carros em cada pista se lá dentro o fluxo, como o gargalo de um garrafão, só comporta três. É o óbvio.
A gestão de Cesar Maia, que tratou a cidade como uma vitrine, dando emprego a arquitetos de butique, priorizou meios-fios, calçadas e postes (superfaturados). Gastou uma nota preta, consta que endividou o município em seu delírio irresponsável.
Poderia ter feito uma obra histórica como fizeram Pereira Passos, Pedro Ernesto e Carlos Lacerda. O túnel Rebouças teria de ser alargado. E há um projeto antigo que vem, se não estou enganado, do plano Agache, prevendo um outro túnel ligando as zonas norte e sul. Seria o túnel da rua Uruguai (na zona norte), que sairia no lado sul da Lagoa.
O grande problema do Rio, em termos urbanísticos, é a imensa (e belíssima) muralha verde que separa a cidade em duas metades físicas. Os canais de comunicação, além do próprio centro já saturado e de alguns acessos pela própria montanha, são os dois túneis (o Santa Bárbara e o Rebouças), já insuficientes para o rolamento do trânsito.
Agora que Cesar Maia se foi, sou-lhe grato por não ter tido a idéia de jogar o Corcovado e o Sumaré na baía, fazendo dois factóides de uma só vez: ligando as duas metades do Rio e aterrando definitivamente a Guanabara. As duas enormes esplanadas assim obtidas poderiam abrigar todos os camelôs da cidade.

Texto Anterior: Aritmética política
Próximo Texto: Não basta
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.