São Paulo, sábado, 11 de janeiro de 1997
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O futebol brasileiro na era da globalização - 2

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, como escrevi na quinta-feira, a modernização do futebol brasileiro necessita redefinição do papel do Estado.
Ao Estado cabe a função de transformar a situação dos clubes brasileiros, um dos maiores obstáculos para a grande virada do futebol no país tetracampeão.
Em um setor altamente profissionalizado, como é o do futebol, a figura da associação esportiva sem fins lucrativos é anacrônica e ineficiente.
Em primeiro lugar, porque há lucro direto e indireto na exploração da atividade (para os empresários que comercializam jogadores, para os concessionários de serviços dessas associações, para os patrocinadores etc., menos para o setor público, que deixa de arrecadar com os clubes).
Em segundo, porque, em vez de representarem um incentivo para o futebol pela isenção de tributos, as associações tornaram-se fator impeditivo do crescimento do negócio.
Em geral, os clubes de futebol são arcaicos, ineficientes, mal geridos, desperdiçam recursos etc. São lugares privilegiados de coronelismo e de trampolim para a politicagem.
Não há racionalidade, planejamento, visão estratégica. Sob o simulacro de democracia, os clubes não são geridos, são empurrados pelo imediatismo e pelo oportunismo.
As tentativas de co-gestão (que já é um avanço) ou de participação modernizadora de grandes empresas não passam de sonho de uma noite de verão. É impossível compatibilizar uma eficiente estratégia empresarial a médio e longo prazos com o clientelismo das diretorias ou dos "corneteiros e cartolas" dos clubes.
Está aí a presente dificuldade de harmonia de interesses entre a Parmalat e os atuais dirigentes do Palmeiras como exemplo dessa parceria sujeita aos sobressaltos clubísticos.
Com exceção da Parmalat, as grandes empresas fogem do patrocínio permanente do futebol brasileiro (outra exceção é a Petrobrás com o Flamengo, mas, como se trata de uma estatal, nem sempre as regras do mercado são levadas em consideração).
O setor fica por conta de estratégias de marketing imediatistas, de marcas que querem adquirir rápida visibilidade, assim mesmo pagando quantias ridículas perto do potencial vendedor do negócio.
Pode-se tentar estimar, ainda que os contratos não sejam confiáveis, quanto os times arrecadam com os patrocínios. Mas é impossível estimar quanto deixam de faturar com a ausência das principais empresas nas camisas.
A estrutura atrasada das associações esportivas (para o caso do futebol, que é superprofissionalizado; nas outras modalidades a situação é diferente) produz também gestores que não estão à altura das necessidades contemporâneas.
O arcaísmo dos clubes sobreviveu, em grande parte, pelo descaso e paternalismo do Estado brasileiro. O fisco é enganado e a Previdência simplesmente toma calotes.
O papel do Estado será o de reformar a existência dos clubes, como Portugal acaba de fazer. Ou viram sociedades anônimas ou seus diretores passam a ser responsabilizados formalmente pelas dívidas (imperdoáveis) dos clubes.

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